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Você sabe ser empático?

Empatia, segundo o dicionário Houaiss, é: “processo de identificação em que o indivíduo se coloca no lugar do outro e, com base em suas próprias suposições ou impressões, tenta compreender o comportamento do outro”.

Pois bem, ter empatia por outro ser humano, por alguma situação específica pela qual o outro está passando parece algo por vezes óbvio. No entanto, quando somos colocados em situações em que se torna necessário exercitar nossa capacidade de ser empático, algo genuíno do ser humano aparece: o egoísmo.

Muitas vezes internalizamos o conceito de empatia e nos convencemos de que somos seres capazes de se colocar no lugar do outro e tentar ver determinadas situações de outro ponto de vista. Porém, na prática, ser de fato empático é algo difícil e por vezes reflexivo demais. Isto é, a partir do momento em que você se depara com uma situação em que precisa exercitar toda sua empatia, passa a ter de lidar com seus próprios demônios internos, seus sentimentos mais verdadeiros, assim como tem que lidar com uma característica que está intrínseca em nosso DNA que é o egoísmo ou a incapacidade de se doar para algo ou alguém que não você mesmo.

Desde sempre fomos educados a competir e ambicionar mais. Essa ambição desmedida nos fez esquecer nossa amabilidade, nossa empatia, nossa sororidade. Estamos sempre ocupados demais! Mas o que de fato nos difere e nos faz estar no topo da cadeia alimentar? Não é nossa capacidade de raciocinar? Nosso intelecto? Será que com todo o avanço do pensamento humano perdemos uma de nossas maiores habilidades, que é a capacidade de amar?

Quando falo em empatia, falo em exercitar e nos lembrar da nossa capacidade de nos compadecermos da dor do outro , de aprender algo de significativo com as vivências positivas e negativas do próximo, da habilidade de se distanciar do seu mundo para olhar ao redor e perceber que você pode fazer a diferença na vida de alguém com o simples fato de estar presente e demonstrar isso. Muitas vezes com um simples “Como você está?”.

Nessa linha, me vem à cabeça o filme mais badalado do momento, Coringa, que trata justamente das consequências geradas pela falta de empatia na nossa sociedade. Isto é, ao ligarmos a televisão, em uma fração de segundos, somos atropelados por mais uma terrível notícia de outro massacre cometido por um certo alguém que viu na brutalidade uma maneira de se comunicar. Os massacres ocorridos nos EUA, Nova Zelândia e aqui, no nosso país, são a prova disso.

Visivelmente essa a falta de empatia tem como resultado a perversidade latente das pessoas, da vida, da nossa sociedade que está doente e que está nos adoecendo por tabela.

  Essa conclusão foi muito nítida pra mim, quando quase no final do filme (alerta de Spoiler!), o protagonista do longa finalmente consegue ser recebido no seu programa de Tv favorito. Apesar de toda a euforia de estar naquele lugar, ele sabia que o intuito da sua participação era ridicularizá-lo. Então, é nesse momento que somos impactados com um breve momento de lucidez, quando Arthur Fleck, o Coringa, fala para o apresentador do programa, interpretado por Robert De Niro, que ninguém observa ao redor, ninguém se importa com os outros ou percebe um indivíduo, como ele, que é tido como invisível, que só o perceberam quando suas ações, mesmo que terríveis e fatais, tiveram grande repercussão… Então fui tomada por um sentimento que eu não sei explicar, mas que me fez refletir por dias sobre aquela cena, que é tão atual, tão próxima da nossa realidade. Então questiono: Será que isso não demonstra o grande problema da nossa geração, que é o individualismo pejorativo e desmedido, capaz de enlouquecer a todos? Tá todo mundo doente, ansioso, com medo da invisibilidade, tentando desesperadamente encontrar o seu lugar ao sol. Quando isso não acontece, a cobrança por esse suposto fracasso é cruel e constante. Assim é no filme, assim é na vida. Afinal, a arte imita a vida, não é mesmo?

Ainda, será que a reflexão do filme também não põe o holofote nas nossas ações como indivíduos e como coletivo, mostrando o quão perverso nos tornamos? Será que o grande mal da nossa geração, além da depressão, será nossa total incapacidade de amar, dividir, se importar? Percebem a relação de uma coisa com a outra?

Afinal, quantos de nós está na mesma situação, seja do lado oprimido ou do lado opressor? Quanto de nós sente esse nó na garganta sem saber explicar o motivo? Quanto de nós anda por aí sentindo medo do anonimato e do temido fracasso?

Será que todos esses casos de grande repercussão e que por um minuto, nessa nossa rotina caótica, nos fazem parar na frente da Tv para lamentar por todas aquelas vidas perdidas precocemente, não deveriam, na verdade, ser interpretado como um recado para a nossa geração e para as próximas? Um recado de que talvez esteja nas nossas mãos o elemento que irá mudar a forma como nos relacionamos, como interagimos como sociedade, como lidamos com os conflitos existentes, sejam internos ou externos, individuais ou coletivos?

Em um mundo que é extremamente cruel, talvez seja mais lógico ou até mesmo mais fácil ser cruel de volta. Porém, não é a loucura que é irracional. É a violência que a sociedade impõe aos mais fracos que é.

O maior problema apresentado por esse trabalho intertextual brilhante, que faz um lindo paralelo com a vida real,  não é a ideia de se enaltecer alguém problemático por suas ações violentas, mas sim pelo fato de sermos parte de uma sociedade tão doente e afundada na lama que o “louco” acaba sendo glorificado justamente por ser quem é, ou seja, um maníaco ( bem atual né?).

Então será que se nós parássemos por um minuto e prestássemos atenção no mundo, na vida, nas pessoas, não teríamos relacionamentos melhores e mais genuínos? Será que tantas tragédias não poderiam ter sido evitadas com um simples “bom dia”? que implica numa consideração genuína? Como podemos mudar esse sentimento sufocante que está em todos nós? Como evitar situações trágicas como as retratadas em “Coringa”?

Sai da sala de cinema me fazendo essa pergunta e ainda não encontrei uma resposta. E você, sabe ser empático?

Por Amanda Alves Rodrigues

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