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Vidas Partidas

Vidas Partidas é um filme protagonizado pela atriz Naura Schneider e o ator Domingos Montagner, vivendo um casal em situação de violência doméstica. Sua exibição na semana da Justiça pela Paz em Casa, no Santander Cultural, contou com a presença de autoridades, da Rede de atendimento às mulheres e as próprias, bem como com a presença da protagonista do filme. A atriz falou sobre a experiência e seu ativismo em prol das mulheres. O filme tenso nos deixou desacomodados, principalmente por vermos que apesar dos esforços concentrados, a desigualdade entre homens e mulheres ainda permanece, o que se reflete na violência e na criminalidade, e num pacto de silêncio que torna difícil dar visibilidade ao tema.

Da mesma forma, este silêncio gritante, coage a uma visão limitada dos problemas sociais presentes no filme. Acreditar que apenas a mulher é responsável pela situação em que se encontra impede de ver que há todo um sistema de coação. De um lado, a sociedade, por sua dificuldade de enfrentar o tema, preferindo culpar a mulher, e de outro, as instituições que servem à manutenção do poder patriarcal, exemplificados, no filme, com a negociação estabelecida entre o agressor e empregados, polícia, advogado, e a dificuldade de a vítima, recuperando-se de seus traumas, elucidar, aos poucos, o que lhe aconteceu. Isso se dá, em parte, pela dificuldade de produzir provas, e, em parte, pela dificuldade de aceitar que quem tanto amou tenha lhe feito tão mal. Ao mesmo tempo, a temeridade de perder a guarda das filhas caso tome uma ação precipitada. Dificuldade essa, em certo grau inconsciente (funcionando a negação como mecanismo de defesa).

O filme não é apenas um duro relato sobre a violência, mas também uma crítica social à manutenção da desigualdade entre homens e mulheres. Esta desigualdade, representada também nas Leis, como o papel da mulher no direito penal e no direito civil, crítica de Marilia Montenegro, no livro Lei Maria da Penha: uma análise criminológico-crítica. Pois, segundo esta autora, “historicamente, o Direito Penal apenas se preocupou com a mulher para categorizá-la na condição de sujeito passivo (…)”. Assim, embora ela possa cometer qualquer crime, será punida com penas mais graves que um homem pelo mesmo fato. Ao mesmo tempo, no Direito Civil, até bem pouco, ela era vista como incapaz, como criança, como frágil. Saída da “proteção” do pai, iria para a “proteção” do marido, quando casava. Isso deixa implícito que só há um caminho a trilhar: o casamento. Quando uma mulher trilha outro caminho, é punida. No filme, está clara a impossibilidade de ela abandonar o casamento, o que representaria abandono do lar.

Por Ivete Machado Vargas

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