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O capítulo 9 de Mulheres que Correm com Lobos fala de uma iniciação incompleta, conta a história da mulher foca que estava no caminho dos aprendizados da sua alma, faltava pouco para que fosse adentrar no mar, mas se desvia por um homem solitário e permanece por muito tempo com ele até que vai perdendo a sua vivacidade. Esse é um resumo muito incompleto da história, mas se trouxer outros detalhes é capaz de perder o direcionamento que quero dar pra este texto, aconselho a leitura completa.
Tudo que o texto traz como personagem deve ser sempre lido como algo simbólico e como pedaços de nós representados em cada personagem, não somente na mulher-foca. Pra mim essa história pegou de um jeito que me abalou profundamente. Clarissa fala da necessidade de tempos em tempos “voltarmos ao lar”, uma volta solitária a casa da alma. Casa dos pensamentos, sentimentos, traumas. Casa do silêncio. Casa tão necessária para poder voltar pra o mundo e manter os pilares externos da nossa vida no lugar.
Se, por acaso, desprezamos essa necessidade de voltar ao lar como fez a foca, ficando tempo demais distraídas, somos tomadas de raiva, de tristeza ou de angústia e podemos culpabilizar terceiros por terem abusado do nosso tempo. Não tem problema distrair. Porém, verdade seja dita, às vezes não vamos pra casa da alma porque nem temos coragem de entrar lá. É mais fácil culpar os outros das nossas distrações.
Pode aparecer também uma necessidade de reconhecimento externo. Sendo “tudo para todos”. Sem tempo para si pode dar uma falsa sensação de importância, parece que vai vir o tal reconhecimento. Não vem, e na verdade, somos nós que temos que nos reconhecer. Muitas pessoas que não delegam tarefas do trabalho ou da casa porque as demais “não iriam saber fazer”, depois se queixam de sobrecarga.
Não estou dizendo que as pessoas não abusam, abusam sim, são bem abusadas inclusive. O problema está em deixar-se perder tanto tempo de vida atarefadas, a ponto de perder a própria direção, o brilho, o viço. Sair em frangalhos. Não saber dar seu limite, nem olhar pra si.
Então precisam fazer um mergulho profundo, profundo, profundo para se encontrar de novo. Se dá pra se retirar de tempos em tempos para silenciar, por que esperar a pele da foca (alma) se deteriorar?
Juliana Wesendonk Soeiro
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