Seguindo a nossa programação normal de falar sobre o livro Mulheres que Correm com Lobos nós chegamos na Vasalisa. Não vou dar muito spoiler desse conto porque ele é cheio de detalhes e tenho a sensação que Clarissa não iria gostar que eu o fizesse.
Nesse terceiro capitulo, a autora descreve todos os passos de como fazer uma boa iniciação, ou seja, como despertar nosso lado selvagem, nossa força interior. Parece que Clarissa dá um verdadeiro tutorial de como encontrar o seu eu selvagem, pois ela diz passo a passo o que se faz, mas não é essa sua intenção: Não tem regra e cada um vai ter o seu despertar a sua maneira e no seu tempo, naturalmente. Não tem como pular etapas nem falsear processos.
O que a autora coloca são os dilemas e as questões que vamos enfrentar em cada um desses momentos de nossas vidas e nos atenta pra que saibamos quando está ocorrendo essa iniciação. É preciso que ocorram fases possivelmente desafiadoras para desacomodar. Sem isso não há mudança interior.
A primeira etapa da iniciação é deixar morrer. Se despedir de um lar sem perigos, mas também sem muitas emoções. Se permitir sair da zona de conforto. Se desconhecer, confiando apenas que esse momento de fim, de “não saber o que virá” é importante e necessário para a vida de um Eu mais intimo, mais verdadeiro, renovado.
É preciso se desapegar de quem se é para ser outra coisa, não necessariamente dentro do padrão ou dentro das expectativas alheias. Esse caminho pode ser mal visto pelos outros, você pode ser mal vista pelos outros, pois já não se é mais aquela pessoa obediente e que aceita tudo ou qualquer coisa do banquete, ou que faz tudo por tudo e todos. É necessário desapegar da aprovação do ambiente externo.
É preciso reconhecer a própria esquisitice e acolhe-la, reconhecer os desejos não sempre bem remunerados ou bem vistos pela sociedade. Parar de tentar agradar. Como todo bom millenium sabe “se abaixar muito a coroa cai”.
Todos somos diferentes e é isso que nos faz como essência. Por isso a necessidade de aprender a confiar na intuição. Entender que existe uma ancestralidade dentro de nós que poderá nos ajudar a diferenciar qual é o nosso caminho de alma e quais são os que na verdade pareciam muito bons, mas que não eram pra gente ou que já terminaram a sua função na nossa vida.
Como diz a própria Clarissa, se a tua intuição diz “cuidado”, tenha cuidado. Se ela diz, vá por aqui, mesmo se for taxada de louca: vá. Não necessariamente precisamos racionalizar essa vontade de ir pra algum lugar. Ela simplesmente surge, no nosso corpo, nos nossos olhos, numa vontade que vem de dentro dos ossos.
O que afinal a Vasalisa ensina¿ Ensina sobre o ciclo vital. Sobre viver e deixar morrer. A iniciação é isso – saber a hora de cada um deles. Respeitar os processos da própria natureza. Tem algo mais simples e complexo que isso¿
(esse pequeno texto não exclui a intensa, iniciática e deliciosa leitura do livro).
Juliana Wesendonk Soeiro
CRP 07|26220
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