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Uma reflexão sobre a vida

Uma reflexão sobre a vida

Hoje vou relatar para vocês uma história real que diariamente acontece com milhares de pessoas e ocorreu comigo há pouco tempo. Fui surpreendida sem poder me despedir de um casal que, apesar de nunca ter sido estabelecido um diálogo entre nós, nossos olhares se cruzavam, seguido de uma troca de sorrisos e um aceno de mão que dizia que eu era bem-vinda ao local.

Com certa regularidade, viajo até a linda cidade da serra gaúcha, Canela, e tenho um roteiro matinal que percorro com longas caminhadas, respirando aquele ar tranquilo e desfrutando dos benefícios em qualidade de vida. Nesse trajeto sempre passava por esse casal, que, inicialmente, me chamou a atenção pela sua idade avançada, depois pela decoração do seu jardim, com bonecos de gesso que adornavam o gramado sempre impecável.

Na entrada da casa, janelas de vidro abrigavam os vovôs da chuva e do frio e ali ficavam admirando os transeuntes em suas cadeiras cômodas, conversando e tomando chimarrão. Numa mesa ao canto, um gato japonês acenando sem parar, amuleto conhecido por atrair sorte, proteção, prosperidade, felicidade e saúde, os acompanhava. Quando não estavam ali e eu passava, o gato sempre me acenava, mostrando que estava tudo bem.

Num certo dia, porém, quando cruzei pelo local percebi que a casa estava toda fechada, a grama havia crescido rapidamente, tapando quase todos os anõezinhos do jardim, apenas o gatinho continuava ali, acenando sem parar, então percebi que alguma coisa tinha acontecido. Fiquei por alguns instantes em busca de respostas, percorri a lateral, mas na garagem aos fundos onde sempre tinha uma mesa posta, apenas uma porta cerrada aparecia.

Um guarda se aproxima e eu pergunto o que havia acontecido com o casal. O senhor me disse que ele havia morrido e a senhora havia sido colocada no Oasis.

“Como assim?” Pensei comigo. Não quis questionar que local era este, pois logo percebi que era uma casa para pessoas de idade. Essa senhora perdeu seu companheiro de tantos anos, parceiro de vida, com uma rotina construída ao longo do tempo, perdeu a casa em que viveram tantos sonhos, onde receberam tantas pessoas e criaram seus filhos, que foram crescendo e partiram em busca de suas vidas. Por que a teriam colocado num local que considero a última passagem, na qual nos deixa mais próximo

do fim, onde não se tem mais expectativa, se perde o brilho da vida e muitos sucumbem por desilusão.

Irei ficar sem essas respostas, mas cada vez que passar por ali irei me lembrar deles, apenas lembranças boas, de anos de acenos e sorrisos que me faziam bem. O guarda percebeu meu desconsolo e disse: “É a vida…” Pois é, concordo, mas nunca estamos preparados para o fim que a vida proporciona. Assim, sejam felizes! Ótima semana!!!

Rosane Machado

Mestranda em Estudos sobre as Mulheres, Gênero e Cidadania pela UAB de Portugal

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