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Um tema em debate: as mulheres nas ciências

UM TEMA EM DEBATE: AS MULHERES NAS CIÊNCIAS

Marlene Neves Strey

Alguns anos atrás, durante um processo de Orientação Profissional, uma orientanda me disse que estava buscando a orientação porque estava fazendo O curso de estatística na Faculdade e achava que esse não era um bom curso para uma mulher. Enfim, foi uma longa história, mas a questão sempre permaneceu presente para mim: existem cursos/carreiras/trabalhos que não sejam adequados às mulheres? Estamos no século XXI e isso ainda costuma ser discutido.

Se alguém estiver interessado ou interessada em saber mais sobre o assunto, faça uma busca na Internet. Vai descobrir que, apesar dos grandes avanços na busca da igualdade entre mulheres e homens, o mundo da Ciência, das Tecnologias, ainda é um mundo muito masculino. Ou seja, as mulheres ou estão fora desse mundo ou têm que lutar muito para conseguir fazer parte dele e, quando conseguem, têm que trabalhar arduamente para serem lembradas de que estão alí presentes com perfeita competência e capacidade.

Muitas vezes, quando o assunto vem à baila, parece que nunca houve mulheres nessas áreas do conhecimento humano. Com exceção, talvez, de Marie Curie, considerada a mãe da Física moderna e que ganhou um prêmio Nobel pela Química e outro pela Física, que todo mundo já ouviu falar na escola. Apesar de praticamente invisíveis, as mulheres sempre estiveram presentes, sempre contribuíram para a criação de tecnologias que hoje são fundamentais e indispensáveis para a nossa vida. Mas já ouvimos falar nelas? Elas são citadas com a mesma frequência como os grandes nomes masculinos são citados?

Tenho certeza de que não são. Buscando aqui e alí, selecionei alguns nomes aleatoriamente . Por exemplo, quase não se ouve falar de de Ada Lovelace, que criou o primeiro algorítmo da História, de Radia Perlman, mãe da Internet. E, provavelmente Hedy Lammar só é conhecida por ter sido uma das mais lindas atrizes americanas de todos os tempos. No entanto, ela criou um sistema de comunicações para as Forças Armadas dos Estados Unidos que serviu de base para a atual telefonia celular. Jocelyn Bell descobriu os pulsares, mas quem levou o Nobel de Física foi o orientador de sua tese. Quem viu o filme Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures,

EUA, 2016) pode constatar que ser mulher é um grande impeditivo no mundo das ciências e das tecnologias. Ser mulher negra, então, é uma barreira muito, mas muito difícil de ultrapassar.

Aqui no Brasil, temos muitos nome femininos atuais importantes, como Juliana Freitag Borin, que está na Unicamp em São Paulo desde 2012 trabalhando com comunicação sem fio. Cláudia Maria Bauzer Medeiros, que foi presidente da Sociedade Brasileira de Computação de 2004 a 2007. E, sem dúvida alguma, Clarice Sieckenius de Souza que em 2014 foi incluída na lista das 54 mulheres de todos os tempos que se destacam pela atuação em pesquisa na área da Ciência da computação.

O World Economic Forum, sediado em Genebra, todos os anos elabora o Global Gender Report, que mostra o tamanho da desigualdade entre homens e mulheres nas áreas de educação, saúde, economia e política. Pois bem, em termos de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas, as mulheres estão muito sub-representadas. Não apenas esse relatório diz isso, mas inúmeras pesquisas em todo o mundo dizem o mesmo e tecem considerações sobre o porquê dessa distância. As hipóteses são variadas, dependem dos objetivos dos estudos,

Depois de ler sobre o tema, trabalhar com meninas e mulheres, participar de muitas discussões em congressos, tenho para mim que os impedimentos e obstáculos para as mulheres nessas áreas são ainda o ambiente hostil às mulheres, já que são vistas como invasoras de um lugar historicamente masculino. Um exemplo disso é o exército dos Estados Unidos nunca ter divulgado os nome das mulheres que participaram do desenvolvimento do ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer ). Agora se sabe que foram seis. Outra questão é o marketing dirigido aos meninos/homens e não às meninas/mulheres sobre as ciências. A pouca representação nas mídias de mulheres nas tecnologias. Os escassos modelos existentes (em parte porque, embora existam, parece que não, já tudo é feito para que sigam invisíveis). O pouco incentivo social e familiar. E, entre outras muitas coisas, o impacto da experiência na Escola, que de uma maneira ou outra, acaba por indicar caminhos diferenciados aos gêneros.

As mulheres estão em muitos lugares. Mas nenhum lugar deveria ser escondido delas. Não existe trabalho de mulher. Não existe trabalho de homem. O mundo necessita e exige que todos os gêneros possam contribuir para melhorar a vida e ampliar o conhecimento.

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