Recentemente, me desfiz de uma estante enorme que ocupava uma parede inteira, e os livros que ela guardava foram doados, muitos deles me acompanhavam desde a vida acadêmica, me instruindo, dividindo meu tempo em leituras e tornando minha vida mais rica em conhecimento.
Confesso não ter sido fácil ver Freud, Carl Roger, Melanie e tantos outros autores serem retirados da estante e selecionados para doação, mas me dei conta que o apego nos aprisiona. Esses livros, que já não eram tão procurados por mim, permaneciam ali por perto, talvez fosse precisar um dia. Livros que falavam sobre o desenvolvimento humano, da infância à vida adulta, me fizeram recordar o tempo em que estudava, a empolgação em realizar os trabalhos acadêmicos, a faculdade e os prédios que adorava percorrer, deixando meus sonhos me levarem distantes, em busca de imaginar como seria meu futuro como profissional. Muitos deles estavam com as folhas desgastadas pelo tempo, mas continham no seu interior palavras que formavam frases de autores, que transmitiam, à sua maneira, determinado tema e, por vezes, me fizeram refletir sobre o assunto, instigando novas leituras, em busca de aprimorar ainda mais o que havia lido.
Tornei o ambiente mais clean, sem muito espaço para novas aquisições, mas muitos permanecem à minha disposição, selecionados por um critério de necessidade, e não de apego. O que me deixou mais satisfeita é saber que, em tempos de livros digitais, muitos daqueles livros irão proporcionar um aprendizado, além de despertar muitos jovens a uma profissão.
Sem nostalgia, o desapego é libertador, e à medida que o ambiente se modificou, abriu espaço para o novo, assim como novas possibilidades. Um ciclo se fechou, de um tempo que não volta mais, mas outros tantos podem ainda surgir, trazendo muitas alegrias num ambiente renovado.
Ótima semana!
Rosane Machado
Mestranda em Estudo sobre as Mulheres, Gênero e Cidadania pela UAB de Portugal.
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