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Talibã e a difícil missão de ser mulher! Parte I


“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.” (Simone de Beauvoir)

Que o cenário de pandemia afetou, de maneira drástica, a rotina das mulheres não é novidade. Seja na rotina com os filhos, trabalho ou com a casa, pesquisas comprovam que a carga de trabalho das mulheres aumentou consideravelmente de 2020 para cá.

Nessa linha, os casos de agressão às mulheres também aumentaram com o isolamento social forçado. Basicamente elas tiveram que viver em " cativeiro" com o próprio agressor.

2021 senhoras! E temos mulheres vivendo situações de extrema violência.

E o que isso tem a ver com a tomada do Talibã a Cabul, Afeganistão?

Tem tudo a ver porque tanto a retomada de poder do Talibã, quanto o aumento dos casos de agressão e/ou feminicídio contra às mulheres durante esse período, demonstram a total fragilidade dos direitos que nós sempre entendemos como adquiridos e absolutos.

A ascensão do Talibã, 20 anos após a dita " pacificação" dos EUA no Afeganistão é sim problema todos nós, porque além de ser uma questão humanitária de extrema urgência, reabre o debate sobre como mesmo tantos anos depois da dita "emancipação feminina", motivada pelas 1ª e 2ª ondas feministas, nós mulheres estamos condicionadas às vontades dos homens, que seguem no topo da pirâmide absoluta de poder.

Estes homens que causam as guerras e que nos tornam os principais alvos de sua violência e ego, são os que hoje vêm diante do mundo "ponderar" que " Os direitos das mulheres serão respeitados, de forma moderada e com base na Sharia", essas palavras são de um dos porta-vozes do Talibã. Ou seja, a mensagem por trás dessa declaração é clara e dialoga com o mundo: Vocês mulheres terão direitos, mas sob as nossas regras e não serão muitos, afinal, as mulheres já têm direitos o suficiente, não é mesmo?

Pra quem não sabe, A Sharia é o sistema jurídico do Islã. É um conjunto de normas derivada de orientações do Corão, falas e condutas do profeta Maomé e jurisprudência das fatwas - pronunciamentos legais de estudiosos do Islã. Em uma tradução literal, Sharia significa "o caminho claro para a água".

A Sharia serve como diretriz para a vida que todos os muçulmanos deveriam seguir e seu código tem disposições sobre todos os aspectos da vida cotidiana, incluindo direito de família, das mulheres, negócios e finanças.

Em outras palavras, os dispostos na Sharia são distorcidos e mal interpretados - ou interpretados como esses homens querem - para oprimir as mulheres e fazer com que todos os direitos que deveriam ser básicos a todos os seres humanos, sejam revogados e descartados como lixo.

A situação das mulheres afegãs é de extrema preocupação não só para nós mulheres que sim, fazemos parte de um grande coletivo, mesmo que as nossas lutas não sejam as mesmas, mesmo que nossas correntes sejam feitas de materiais distintos. Todas estamos no mesmo barco, todas estamos com armas empunhadas contra nós, todas nós estamos com a faca no pescoço.

Em alinhamento à realidade brasileira, temos uma legião fundamentalista, extremista e anti democrática, cujo projeto de sociedade consiste em nos fazer retroceder 50 anos em 5.

Mais uma vez, tenho que ser repetitiva e referenciar Simone de Beauvoir " Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.”


Por Amanda Alves Rodrigues


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