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Sobre ser mãe

Sobre ser mãe

Todas nós conhecemos aquela amiga, ou amiga da amiga, que se preparou para a maternidade, ela definiu o momento em que estaria preparada para ser mãe; se dedicaria primeiramente a construir sua carreira, depois a solidifica-la, e depois casaria, viajaria, aproveitaria a docilidade dos primeiros anos de casamento, para só então, dedicar-se à maternidade, iniciaria sua caminhada rumo aquele que seria o momento mais singelo e belo da sua vida.

Há quem simplesmente tenha como ideal, casar-se e ser mãe, trabalham, estudam, mas desejam acima de tudo, ter um filho, ou, vários. Também conhecemos mulheres que desejam ter filhos, sem necessariamente vivenciarem uma relação conjugal.

Há, ainda, a história da maioria de nós, e aí me refiro à minha geração, e a geração de nossas mães, (considere-se aqui, que tenho mais de 40), casamento tradicional, e depois filhos, na maioria das vezes, não havia espaço para “ter uma carreira”, ou uma profissão, e nestes casos, as “moças” eram talhadas e criadas para serem donas de casas, mães por excelência.

Não podemos esquecer daquelas que vivem o momento da maternidade, de uma forma excepcionalmente difícil, as mulheres que estão encarceradas. Estas, mães de primeira viagem ou não, terão necessariamente uma gravidez de risco. Conforme a defensora pública Verônica Sionti, em certa entrevista, expôs, “nosso sistema carcerário, pela sua estrutura padrão, condena além da mulher, sua gravidez também”.

As formas que moldam a situação fática da gravidez, e como a vivenciamos, são extremamente variáveis, da gravidez inesperada até aquela onde tudo é delicadamente projetado. Cada vez que damos à luz a uma criança, a vida faz nascer também uma mãe.

Alguém já disse, “quando parimos um filho, nascemos como mãe”, e sabemos, trata-se de uma premissa verdadeira. Não há nada que possa nos preparar para este momento. Nos casos, onde um filho é um projeto, é claro, a base da maternidade, nos parece mais clara, conhecemos a fórmula padrão, mas nada, nada mesmo, se compara ao momento em que parimos, e segundos depois, recebemos a cria nos braços.

Não há nada que possa definir esse sentimento. Tudo que havíamos aprendido e sentido sobre amor até então, sucumbe ali, e nasce naquele momento um sentimento novo que jamais poderá ser descrito, talvez, a real ideia do que seja o amor.

Uma parte de nós, ganha uma outra vida, que geme, chora, e vai ganhando personalidade. Uma pessoa, um ser inteiro, com todas as suas particularidades, idiossincrasias, complexidades; e esse ser, embora tenha sido separado de nós, pelo rompimento do cordão umbilical, jamais se dissociará do que somos. Não são uma extensão nossa, mas sua essência fica para sempre em nós, como uma doce tatuagem, que aliás, conservamos com todo o afinco, guardamos tudo, da pulseirinha do hospital até a roupinha do primeiro aniversário.

De nós eles levam muito, mas nós ficamos com tudo deles; as lembranças ternas da primeira infância, amamentar, os primeiros passos, as primeiras palavras, caras e bocas. O encantamento do início de um ser, isso é todo nosso.

No momento em que nascemos como mãe, tudo se relativiza em função do bem estar do nosso filho; é tudo por eles, e para eles. Não há sequer um minuto de tranquilidade e relaxamento, todos os momentos são de uma eterna vigília. O sono que antes era pesado e profundo, agora é leve feito uma pluma, atendendo ao simples gemido no bercinho que está no outro quarto. A conexão é imediata, não há mais banho de 15 minutos, até porque se o banho se estende, algo dentro da gente nos chama, e ao retornarmos à cria, o pai, a avó, seja lá quem estava com o pequeno, logo acusa, “ele acabou de acordar e está com fome”.

A luzinha vermelha vai ascender dentro de você, vai acusar o golpe, por vezes, antes mesmo de doer na pele do seu filho. É aquela situação em que você diz ao filho para não ir naquela viagem, não ir naquele encontro, ou não ser amigo daquela pessoa, e depois, bom, depois, você já sabe, acontece alguma coisa, que poderia ter sido evitada. Mãe é o “para raio” mais eficiente que existe, porque é capaz de prever a tempestade há quilômetros de distância.

Todas nós, mães, sofremos. Desde aquelas que poderão gozar sua maternidade integral, portanto, sentir a “dor e a delícia de ser mãe”, até aquelas que sofrerão justamente porque não poderão vivenciar este turbilhão de novidades, que é o caso das mães encarceradas que terão a presença dos filhos por somente um certo tempo.

Sofremos primeiro pela insegurança em saber ser mãe, já que também fomos recém paridas como mães, depois pelos sofrimentos naturais que alguns bebes passam, como cólicas e doenças típicas, o aparecimento dos dentinhos, e depois com todo e qualquer sofrimento que nossas crias sintam, e neste caso, não importa o tamanho da dor. Iremos sofrer sempre.

E sofreremos felizes, sim, felizes, porque agradeceremos todas as vezes pelo tombo que não deixou marcas, pela doença que era só um resfriado, pelo acidente de bici que rompeu os ligamentos, mas não fraturou o osso, porque sempre, sempre terá um motivo para agradecer pela existência deles. Não há limites para o otimismo de uma mãe, nem desafio que ela não vença. E elas, ao menor sinal de melhora da criança, por mais feroz que seja a doença, são as pessoas mais felizes que eu conheço, sorriem e choram ao mesmo tempo, e o sorriso se deve ao fato de que a esperança é sempre a melhor amiga das mães, talvez por isso a palavra “esperança” seja um substantivo feminino.

Mas então, porque ser mãe? Se é tão sofrido, se é tão difícil? Não tenho esta resposta, tenho a resposta que se encaixa em mim, na maternidade que eu exerço, na maternidade que me salvou de mim mesma.

Eu dei tudo que tinha do alto dos meus 17 anos, juventude, dedicação, alegrias, dúvidas, tempo, eu me empenhei em amar como se eu não houvesse fim, esse era um amor do agora, com toda a intensidade que ele tem para oferecer. E a medida que essa criança crescia, e solidificava a simbiose amorável, eu percebia que aquela mãe que havia me tornado era uma versão tão melhorada de mim; eu e meu filho crescemos juntos. Não foi simples, não foi fácil, mas nunca é. Descobrimos coisas juntos e continuamos descobrindo até hoje.

Não trago muitas certezas, e das que tenho, uma é a de que a maternidade me deu muito mais do que eu dei a ela, pelo simples fato de que além dos sorrisos mais iluminados do mundo, dos abraços mais acolhedores, ou do simples fato de estar com eles, colho os momentos mais ternos e felizes que alguém pode experienciar, fico mais próxima da completude que só alguém que é amado pode alcançar.

Tenho em mim, todo o amor deste mundo, e é deles, dos meus filhos, e para eles. Matheus, Victória, e Lorenzo, minhas crias, obrigada por me permitir ser a mãe de vocês.

Singra Macedo

Rua Fernando Gomes, 128 conj. 901, Bairro Moinhos de Vento.

Porto Alegre, RS

Fone: 51 3237-0684

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