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Sobre mover montanhas

"Me levanto sobre o sacrifício de um milhão de mulheres que vieram antes e penso: O que é que eu faço para tornar esta montanha mais alta para que as mulheres que vierem depois de mim possam ver além?”

Rupi Kaur

Com minha avó materna aprendi que o destino de uma mulher não pode ser escrito pelo o que esperam dela, pelo simples fato de ser mulher. Aprendi com ela a escrever minhas linhas, minha história. Aprendi com ela que a coragem nasce com a gente, mas que às vezes demora um pouquinho para desperta, mas ela vem... Ah se vem! Vem quando mais precisamos. Parafraseando Maya Angelou " É algo que se adquire com pequenos atos de bravura"

A sua história inicialmente foi escolhida, mas ele teve a coragem de reescrever suas linhas. Abuela, com seu pequeno ato de coragem, me ensinou a lutar para escolher a minha história, não o contrário.

Com minha avó paterna aprendi que a liberdade é incrível, mas custa caro. Aprendi com ela a lutar pelo meu lugar, a priorizar minha individualidade. A destruir o arquétipo estabelecido de modo arcaico do nosso lugar como mulher. Agradeço a ela pelas idas aos barzinhos da vida e por me mostrar que há muita liberdade em estar a sós e feliz consigo mesma.

Com a minha mãe eu aprendi a me reinventar. Aprendi a me reconstruir a cada tombo da vida. Com ela aprendi a dar valor as risadas, aos almoços em família, a cada pequena coisa que juntas transformam nossa vida. Ela foi uma Fénix. E eu sigo ressurgindo das cinzas como ela.


Porém, se eu pudesse destacar o que de mais importante aprendi com ela, seria a coragem de mudar. De repensar a si própria. Ela era uma " metamorfose ambulante", como dizia Raul.

Com minhas tias aprendi a ser audaciosa. 

Minha tia Bau me ensinou a mostrar pro mundo que  somos capazes de tudo, que enquanto houver ar pulsando em nossos pulmões, haverá uma vida pra ser vivida. Ela mudou o rumo da jornada escolhida pra ela e me mostrou com seus " pequenos atos de bravura", que uma história tida como definida pode ser reescrita. 

Minha tia Sônia me ensinou a respeitar minhas escolhas, meus desejos genuínos. Me ensinou que o doce também move montanhas. Mas acho que o mais incrível nela é a doação de si pro resto das pessoas. Nunca vi alguém se doar tanto como ela. Nesse quesito, também aprendi com ela a importância de me colocar em primeiro lugar, a me valorizar mais. 

- Ainda há tempo e vida, tia!

Minha tia Lulu me ensinou a nunca desistir. Com ela aprendi que é possível "endurecer sem perder a ternura". Ela me ensinou a ser grandiosa dentro da afetividade, me ensinou que o amor move montanhas da mesma forma que a voracidade. Com ela aprendi que a garra é algo ancestral na nossa linhagem, porque sei que foi preciso muita coragem pra enfrentar todos os obstáculos que a vida lhe impôs. Minha tia Lulu me ensinou a traçar meu caminho mesmo diante de adversidades como fez, anos antes, quando ainda era uma menina.

Com as minhas primas eu aprendi que a coragem corre nas nossas veias misturada ao nosso sangue. Elas moveram suas montanhas a sua maneira e seguem movendo outras montanhas por nós e por nossas próximas gerações.

As minhas amigas me mostraram que uma montanha maior, mais sombria e monstruosa existia antes de nós, mas ela foi movida por nossas ancestrais antes mesmo que fizéssemos parte deste solo. Pedra por pedra elas deixaram uma fresta de sol pra nós. Agora cabe a nós rasgar essa fresta e iluminar a todas definitivamente! Acho que talvez seja o nosso legado.

Comigo mesma eu aprendi que, " Coragem é não ter medo", como dizia Nina Simone. Aprendi que o novo sempre vem e que eu já enverguei, mas não quebrei. Eu juntei em mim partículas dessas mulheres que fazem parte da minha vida e me sinto regida por todas elas.

Com todas essas mulheres extraordinárias que me cercam aprendi que movemos montanhas desde sempre e que seguiremos movendo montanhas para que um dia elas não existam, para que um dia o sol reine sem nenhum obstáculo, para que um dia as mulheres que vierem depois que nossos corpos deixarem este solo possam repousar num dia ensolarado, cheio de possibilidades, vida, amor, risada, chuva no rosto, música alta e ventos fortes, bem fortes... Daqueles que nos balançam, mas não destroem. 

Ps: A você, minha tia Lulu, que tanto me acolheu, agradeço imensamente por me mostrar que a força não precisa ser bruta. Ela pode ser afável e calorosa como você era. Talvez com uma pitada de ardência, não é mesmo!?

Que agora, como ancestral, você siga nos regendo aí de cima.

Obrigado por tudo.

Por Amanda Alves


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