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Sobre medo e coragem!

“Ao tomar uma obrigatória e fundamental consciência da minha mortalidade, e do que eu desejava e queria para a minha vida, por mais curta que ela pudesse ser, prioridades e omissões ganharam relevância sob uma luz impiedosa, e o que mais me trouxe arrependimento foram os meus silêncios. Do que é que eu tinha medo? Eu temia que questionar ou me manifestar de acordo com as minhas crenças resultasse em dor ou morte. Mas todas somos feridas de tantas maneiras, o tempo todo, e a dor ou se modifica ou passa” (Audre Lorde, do livro Sister Outsider).

Com base nessa reflexão potente da grande escritora Audre Lorde, ou melhor, da Poeta Guerreira, como ela se intitulava, questiono vocês sobre como compreendem os seus medos? Vocês já pararam para pensar sobre a origem dos nossos medos e de como ele também é importante para a construção que desejamos na nossa trajetória?

Por algum tempo entendi o medo como algo que me paralisava e me fazia recuar, com o passar do tempo passei a ver o meu medo de forma diferente… Desde a coisa mais boba, como medo de escuro, medo de dormir/tomar banho com a porta aberta, até o medo de arriscar grandes mudanças, passei a entender que o medo faz parte da nossa jornada de autoconhecimento e que precisamos buscar a origem de cada um deles.

O problema é que não fomos ensinados a lidar com todos os sentimentos que permeiam nossa vida. Sabemos lidar apenas com os “bons sentimentos”, como alegria, euforia, êxtase e por aí vai… Então, quando essa emoção tão repudiada que é o medo chega, você simplesmente não sabe como lidar e congela. Alguém já se sentiu dessa forma?

Da mesma forma que devemos entender a importância de dizer “ Não”, de liberar o choro e de sentir a nossa dor, entender a importância do medo tem me feito refletir sobre aspectos que sim, até podem ser particular, porém também fazem parte da vida de todas nós que vivemos cercadas por tantas opressões e cobranças, que com certeza são a origem dessa nossa aversão a tudo o que é orgânico ao ser humano. Estamos esquecendo da nossa conexão com nosso lado interior/recluso e nos tornando seres automáticos, incapazes de saber lidar com nossos próprios sentimentos.

Já falamos aqui sobre essa obrigação de performar e sobre o medo que a nossa geração tem do tal fracasso. Em outras palavras, ou você faz duas faculdades e uma pós, trabalha no emprego mais bacana de todos e mora no apê mais incrível do mundo até os 30, ou é um total perdedor (Só que não né?!). Para as mulheres, acrescente a cobrança por filhos… Se você está na faixa dos 30 anos, assim como eu, e ainda não tem filhos com certeza já foi questionada sobre a ausências dos filhotinhos, afinal você não tem mais nenhuma outra motivação na vida do que a maternidade não é mesmo?.

Por que a noção de sucesso tem que se relacionar com tantas trivialidades?

Seguindo essa linha, entendo que o medo, às vezes, é necessário para te fazer pensar, para te fazer entender que toda mudança requer disciplina. Mesmo que você tenha todas as ferramentas para de repente mudar drasticamente de carreira, a disciplina e planejamento são necessários…. E esse medo, ou seja, esse planejamento é extremamente essencial nessa descoberta, afinal vai largar o atual emprego e ficar em casa vendo Netflix? Não né! Logo, esse receio que também pode ser entendido como medo é importante. Porém, o medo não pode ser confundido com a covardia, até porque covardia é inércia, é não tentar, é não arriscar. Já o medo, na minha visão, é a tua intuição te pedindo para ir com calma, pedindo pra que você reconheça o seu medo e trabalhe para superá-lo.

Quer maior demonstração de coragem?

Assim como a questão da vulnerabilidade que por anos foi vista como negativa (já falei sobre a incrível Brené Brown por aqui), assumir os seus medos é algo que requer coragem porque esse sentimento ainda é visto como fraqueza, como algo pejorativo… Pensando nisso, fico relacionando a exposição dos nossos medos com a teoria da vulnerabilidade e chego a conclusão de que expor o seu medo, isto é, a sua vulnerabilidade, nada mais é do que um equilíbrio entre o medo e a coragem. Até porque somos mulheres, queridas irmãs, desde o dia do nosso nascimento somos tomadas por um legado de coragem ancestral, somos regidas por uma legião de mulheres que foram nossas antecessoras e que nos impulsionam a extrair uma coragem extra. Porém, não se enganem achando que essa coragem descomunal que sim, vem enraizada em nós, é nossa única faceta. Existe muita coragem em assumir nossos medos. Como dito por Maya Angelou “(…) Ninguém nasce com coragem, é algo que se adquire com pequenos atos de bravura” … Como assumir nossos medos, okay!?

É e justamente nessa linha que devemos nos apegar, afinal, a grande sacada de assumir sua vulnerabilidade é compreender que quando decidimos entendê-la e expô-la, por tabela assumimos uma coleção de coisas que talvez não sejam tão bonitas de se mostrar, mas que fazem parte desse processo de se conhecer. Se isso não é coragem eu não sei o que é!!

Por Amanda Alves Rodrigues

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