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Sobre a importância das rupturas!

“E talvez agora, ao contrário do que dizem as más línguas preocupadas em nos enfraquecer, onde o feminismo chega, a paciência para nós olhar com carinho, respeito e cuidar das nossas feridas também chega. Onde o feminismo chega, o auto-amor e auto-cuidado chegam. Onde o feminismo chega, chegam outras mulheres e percebemos que compartilhar as dores faz a caminhada ser mais leve porque todo esse peso que carregamos não é nosso. Onde o feminismo chega, o companheirismo e a solidariedade verdadeira entre nós, chegam. Onde o feminismo chega, é possível um novo Horizonte” (trecho de texto escrito por Caroline Anice para o Blogueiras Negras).

Lendo essas palavras escritas por Caroline Anice, encharcadas de esperança e fé, fico pensando em como tenho compreendido os ciclos da minha vida – mas não somente dela – em seus processos de início e fim. Essas palavras surgiram pra mim num daqueles momentos de colisão, em que a vida parece estar caminhando, seguindo seu curso natural dentro da beleza das coisas simples e banais, quando de repente, sem nenhum sinal, ela colide. Essa colisão não diretamente minha, mas que emocionalmente também é, se pensarmos que a partir do momento em que uma de nós colide e cai, todas caímos um pouco, me fez refletir sobre a importância de aceitar a ruptura dos ciclos, sobre a maneira particular que cada um lida com o final dos seus ciclos, aceitando o seu fim, pronto para um novo começo.

Dentro dessa colisão, o ensinamento da vez foi justamente entender que precisamos priorizar nossos processos e ciclos, precisamos entendê-los e, no nosso tempo, no nosso compasso, romper com o que precisa ser rompido, para então renascer.

Quando penso na ruptura de ciclos, relacionamentos, jornadas, me vem à cabeça a maior lição que eu tive sobre esse processo que é tão necessário, mas talvez pouco pensado por nós, que foi o divórcio dos meus pais. Quando pensei nessa ruptura dolorosa, mas necessária, pensei em como precisamos buscar nas nossas entranhas uma dose extra de coragem para romper com algo que talvez esteja enraizado demais para ser rompido, mas que precisa acabar.

Nessa reflexão, lembrei de como esse processo foi amargo e que ainda hoje, quase vinte anos depois, ele me desperta emoções, sensações e aprendizados. Eu lembro que durante esse processo de tentar entender a diferença entre infidelidade e deslealdade, também tive que aprender a lidar com o rompimento dos meus ciclos, mesmo que com 10 anos de idade… Durante todo esse processo, o ponto que mais me chamou a atenção foi a preocupação da minha mãe em manter o nosso ponto de equilíbrio, pautando sempre a importância das referências nas nossas vidas, minha e do meu irmão, um menino e uma menina, que futuramente seriam um homem e uma mulher.

Eu provavelmente demorei muitos anos pra entender o que ela queria dizer com essa palavra – Referência – tão diferente pra mim, tão sonora e instigante. Hoje, com quase 30 anos, eu entendi o que ela queria dizer com a palavra ‘Referência’. Na verdade, agradeço imensamente que ela tenha tido essa preocupação não somente com o nosso presente, mas principalmente com o nosso futuro.

Entendo que por ‘REFERÊNCIA’ ela tenha pensado em como as suas ações poderiam afetar o rumo das nossas escolhas e comportamentos. Mas, por outro lado, vejo suas ações como o maior exemplo de como saber identificar a importância da ruptura de ciclos para que novos começos possam nascer. Isto é, obviamente que hoje como uma mulher adulta consigo entender que todo esse processo de ruptura não foi fácil e leve, ao contrário, se eu fechar os olhos, consigo buscar nas minhas memórias mais antigas momentos em que identifiquei sua dor, seu processo de luto diante do fim daquele ciclo. Porém, o que mais me marcou nisso tudo foi a coragem dela em entender que aquela ruptura era tão necessária quanto nos mostrar que precisávamos entender que daquele momento em diante muitos outros processos de ruptura viriam e que seria preciso coragem para enxergá-los e enfrentá-los.

– Obrigado por mais essa mamãe!

Nesse sentido, diante de todo esse processo de romper com quem eu fui pra encontrar quem eu sou agora e com quem eu quero ser no futuro, entendi que desde sempre pratiquei esse processo de rupturas pela vida a fora. Na verdade, todas nós, de uma forma ou de outra, colocamos esse processo em prática… A questão aqui é saber identificar quando é preciso romper com um relacionamento que não funciona mais e que te causa mais malefícios do que benefícios. O mesmo se aplica a situações que nos aprisionam, diminuem ou restringem… Será que conseguimos enxergar que a ruptura naquele momento é o caminho natural das coisas? Será que estamos prontas para romper?

Voltando as colisões dessa caleidoscópica e caótica vida, aprendi que a ruptura é um processo tão necessário e essencial como qualquer outro. Ele nos faz arder quando é preciso, desaguar quando estamos encharcados ao ponto de precisar transbordar e inundar tudo para que um novo começo surja no horizonte.

As rupturas são necessárias para derramar quando necessário, queimar de alegria e felicidade, explodir quando sentir que é preciso e se realinhar, se reconectar, se reconhecer e então recomeçar. Afinal, se existe um ser capaz de recomeçar quantas vezes forem necessárias somos nós, mulheres!

Cabe um adendo para agradecer a todas as mulheres que foram dilaceradas pelas colisões da vida, mas que entenderam e aceitaram os seus processos de cura, encontraram sua conexão consigo, com sua ancestralidade e se refizeram.

Rupi Kaur em um de seus poemas diz que “Quando quebram o meu coração eu não sofro, eu estilhaço” … Quer melhor síntese da importância das rupturas nas nossas vidas? Eu quero que assim como eu, todas nós possamos nos estilhaçar quando estivermos inflamadas demais, mas que após essa quebra, possamos entender a importância de cada um daqueles cacos de vidro, guardando o significado de cada um deles pra nossa jornada e rompendo definitivamente com aquilo que quebrou e que não pode mais ser remendado.

Que possamos seguir maravilhosamente encantadas pela vida, nos priorizando, nos refazendo sempre que for preciso recomeçar.

Até a próxima irmãs!

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