top of page

Silenciar é preciso

Paradoxalmente, apesar das milhares de mensagens, convites, eventos, mídias e propagandas que o mundo atual nos proporciona, percebo que há cada vez mais a procura pelo oposto desse fluxo agitado. Recentemente, fui ao templo budista de Três Coroas (RS) e estava lotado! Pode ser apenas uma sensação, mas vejo que está crescendo a busca por mindfulness, terapias, reiki entre outros instrumentos que levem ao auto-conhecimento.

No caso da meditação, em teoria parece simples: sentar em posição de lótus e silenciar (?!) Poderia ser, mas estamos agitados demais em busca de respostas fáceis e instantâneas. Se nos custa aguardar as respostas das mensagens de WhatsApp, o café da padaria, a fila do supermercado, imagina aguardar as respostas dos nossos questionamentos profundos e existenciais. Ainda por cima, pelo que eu, iniciante nesse processo posso entender, quanto mais buscamos respostas, mais perguntas surgem.

Lá no templo, teve uma palestra muito interessante sobre o processo meditativo e sobre a vida de Buda. Escutando a história desse grande mestre, fiquei admirada com o desapego, a força de vontade e a fé de um príncipe que larga tudo para entender o processo de envelhecimento, o sofrimento e a morte.

Muito resumidamente (a história é muito mais complexa e vale a pena ser lida), Siddhartha Gautama sai do conforto de uma vida abundante no palácio em busca das próprias verdades. Buda queria entender por que as pessoas envelhecem, ficam doentes e morrem. Então,  vive um período de abnegação extrema e descobre que nenhum dos dois extremos – nem o excesso de luxos, nem a extrema renúncia – faz sentido no seu caminho. Encontra o caminho do meio com muita persistência nas suas práticas e totalmente desapegado de qualquer prazer terreno, atinge a iluminação.

Imagino que a maioria de nós não tenha como pretensão ser um Buda urbano, mas se atingirmos 1% da paz e da consciência que ele atingiu já progredimos bastante. A fome por respostas imediatas só atrapalha esse processo. Afastarmo-nos dos barulhos internos e externos não é fácil porque estamos acostumados a viver no turbilhão. Ficar tranquilo e sereno até causa certo estranhamento.

Concluo e acredito, pelo exemplo de Buda e de outros mestres que, para encontrar algo mais profundo sobre nós mesmos é necessário sair da comodidade, ou seja, abandonar os ruídos internos. Não é tão necessário deixarmos as nossas casas e famílias, mas tentar chegar mais próximo ao desconforto do silêncio e assim, ouvir o que ele tem a dizer.

 Juliana Soeiro – Psicóloga Clínica CRP: 07/26220 TEL: 51 981345357

Comments


bottom of page