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Será que tem idade pra tudo?

Quem nuca ouviu aquelas frases escrotas clássicas, que tem o único objetivo de nos limitar de todas as formas, tais como:

1º Cabelo comprido só até os 30. Depois fica tão fora de moda, mulher velha de cabelão;

2º Saia curta só em guriazinha, mulher feita de saia curta é ridículo;

3º Vai pintar esse cabelo, grisalho da um ar de desleixo;

4º Gente acima do peso tem que usar roupas pretas e largas, caso contrário aparenta ser maior ainda;

5º Negros não ficam bem usando cores fortes e vibrantes;

6º Batom vermelho é coisa de quem quer chamar atenção (lê-se Puta).

  Eu já ouvi quase todas essas frases ao longo dos meus 28 anos e confesso que nunca fui muito convencida de que exista uma idade, corpo, gênero ou etnia certo para cada coisa. Afinal, e o nosso livre arbítrio? E as nossas próprias vontades, gostos, preferências?

Lembro que na adolescência ouvia muitas histórias dos meus avós, sempre achei fascinante ouvir como as coisas eram diferentes no tempo deles, o que me fazia ser grata por nascer livre, de certa forma, para poder optar por aquilo que eu gostava.

Meus avós me passaram ensinamentos que nem a melhor faculdade poderia me passar. Foram um verdadeiro estudo antropológico, que abrangia economia, status social, comportamental, emocional. Falavam-me, por exemplo, sobre as dificuldades que as mulheres enfrentavam na época deles, quando minha avó dizia que tinha que trabalhar e levar os filhos ao trabalho, colocar meu tio bebê na gaveta de uma lavanderia que ela trabalhava porque não tinha opção… Assim como o fato de ser divorciada (ou melhor, desquitada), que era quase que uma condenação para as mulheres da época. Acho que ainda hoje esse status ainda não mudou, talvez tenha se suavizado.

Lembro que uma vez cheguei à casa deles com os cabelos molhados, usando um batom vermelho. No auto dos meus 15 anos, não via nada de mais na minha maquiagem ou no fato de estar com o cabelo molhado. Mas nunca vou esquecer do olhar de reprovação do meu avô, que automaticamente, me reprendeu e soltou a seguinte frase: “O que os vizinhos vão pensar? A guria de cabelo molhado e batom encarnado!”.

Sem saber o motivo da sua revolta, questionei qual era o problema de estar com o cabelo molhado ou usando um batom vermelho… Prontamente ele me disse que vinha de uma época em que as mulheres que saiam de cabelo molhado ou usando o tal batom vermelho eram “ mulheres da vida”, isto é, prostitutas, logo, indignas, impuras. Eu, que sempre adorei a transgressão, achei o máximo tudo isso e vi naquele batom vermelho meu grito de resistência e liberdade. Por mim e por todas elas!

Nesse sentido, lhes pergunto se existe idade certa para usar uma roupa, corte de cabelo ou maquiagem? Vocês sem prendem a essas imposições?

Acredito que não exista idade, corpo ou qualquer outro denominador que possam servir de limitador, mas tenho plena consciência de que por mais que tenhamos avançado em vários aspectos, ainda somos oprimidas por padrões que nos aprisionam fortemente.

Quantas de nós já deixou de usar determinada peça de roupa porque alguém um dia disse que o nosso tipo de corpo não era adequado para usar o tal modelo? Quanta de nós já enfrentou um preconceito velado por usar aquilo que nos faz sentir belas e plenas, como um cabelo azul, um piercing no nariz, um alargador, uma tatuagem? Qual de nós nunca ouviu que se usasse listras ficaria com a aparência mais gorda do que realmente é? Barriga de fora então, absurdo total. Afinal, se você não tem barriga negativa, está proibida pelos fiscais do peso alheio de usar o tal Cropped (ainda vou experimentar esse bendito)!

Viu só, como é possível que ainda nos permitamos sofrer por padrões que não fazem o menor sentido para a mulher que somos? Como podemos tolerar que pessoas que mal conhecemos tenham o poder de determinar a forma como nos vemos. Como?

Assim como as “mulheres de vida fácil” (que nunca, em hipótese alguma, tiveram uma vida fácil), que seguiram firmes com seus cabelos molhados e as bocas pintadas de vermelho, assim como minha incrível e espetacular mãe, que mesmo trabalhando num ambiente totalmente masculino que é uma casa prisional, e que seguia indo trabalhar com os olhos pintados, a boca vermelha sangue, que representavam o tamanho da sua voracidade, desejo que todas nós possamos nos libertar e libertar as mulheres a nossa volta, incentivando-as, exaltando a sua beleza, que é impar e sensacional.

A menina de dez anos atrás olhava uma irmã de top, correndo na orla do Guaíba ou usando a barriga de fora e pensava: “Que corajosa, nunca ficaria tão nua assim ou não tenho corpo pra isso”. A mulher de hoje, um pouco mais segura de si, olha uma irmã linda, empoderada, usando seu Cropped, seu shortinho, sua minissaia e pensa “É isso aí garota, se joga, está linda”!

Que tal não só pensar, mas verbalizar, exaltar, elogiar e fazer com você e aquela irmã se sintam fenomenais (alô Maya Angelou)? Guria por guria, se seguirmos nessa linha, um dia, quem sabe, teremos um exército de mulheres maravilhosas, completamente surdas para os julgamentos da tal patrulha do peso, se amando e espalhando esse amor para todas nós. Vamos juntas?

Por Amanda Alves Rodrigues

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