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Respira fundo e vai!

No post de hoje vou falar sobre um tema que vivi intensamente no Caminho, praticamente todos os dias, a empatia. Quando a gente sai da nossa zona de conforto, nossa casa, nosso quarto, nosso mundinho, parece até loucura, mas a sensação é de desproteção, é preciso estar atento e forte. Essa sensação se multiplica quando optamos por uma viagem nesse estilo, sem muita coisa prevista, nem hotel reservado, nada, o legítimo jogado no mundo com a apenas uma mochila nas costas e um mapa, estar sempre atento é fundamental e não somente por perigo, mas por compreender uma nova língua, uma nova cultura, o ser humano.

No Caminho de Santiago não é diferente e é latente essa percepção com o outro, todos estão lá por um motivo, todos querem completar a sua jornada, seja com uma mochila grande ou pequena, seja com botas ou sandálias, seja com poucos euros no bolso ou reserva em hotel cinco estrelas. Todos estão lá para se autoconhecer, mas eu diria até, para conhecer o outro. Desde o dia em que comecei a caminhar, conheci peregrinos do mundo todo e nos meus momentos mais difíceis seja de dor física ou mental, alguém sempre parava ao meu lado e perguntava se eu estava ok, se a resposta era sim, ele seguia seu rumo.

Entre todos esses momentos de empatia, não consigo me esquecer de um deles, já estávamos na metade do Caminho, meu joelho voltou a incomodar, pois as trilhas estavam muito difíceis e meu pés, (eu amo tanto eles agora) doíam muito, mas aguentavam o tranco. Pela manhã iniciando a rota do dia, não tinha ideia do trajeto, de como o caminho seria, começo a caminhar sozinha, o dia ainda se abrindo, uma leve cerração, caminho devagar, um pouco menos do meu ritmo por causa do joelho, sigo as flechas que me indicam onde devo ir e me deparo com os pés de uma montanha, fico parada olho para cima e penso: ok! Lá vamos nós de novo. Começo a subir, mas é uma subida muito ingrime e que não acaba, olho para o lado e vejo a cidade ficar cada vez menor, sigo, vejo que tem peregrinos na minha frente o que me deixa mais tranquila, mas eles caminham rápido e eu para não perde-los de vista também acelero meu passo.

O topo não chega nunca, aquela subida íngreme começa a me cansar e eu começo a perder o ar, começo a ofegar, estava muito frio, minha garganta estava seca e parecia congelada, não consigo seguir, não conseguia mais respirar. Sinto alguém subindo a montanha, ele passa por mim, e eu fico lá encostada em uma árvore tentando recuperar o fôlego, esse rapaz, que não sei o nome, só sei que era francês e que tinha 19 anos, volta, para na minha frente e diz em inglês: Você! Olha para mim e respira junto. Olhei para ele com cara de pavor e comecei a respirar com ele, ele fazia com as mãos movimentos de respirar fundo e soltar, quando ele percebeu que eu tava conseguindo respirar normalmente me disse: Vamos subir? Eu disse ok! Ele ligou uma música em um radinho que carregava, era algo como um rap em francês, pegou minha mão e subiu comigo. Eu ria porque ele cantava junto, ele falava para não parar de respirar, eu obedecia. Chegamos no topo da montanha, mas ainda faltava contorná-la, ele se vira para mim e pergunta se estou bem, digo que sim! Ele faz um sinal de positivo e segue o seu Caminho. Foi uma etapa muito difícil de ser completada, e talvez eu nem conseguisse se não fosse por esse jovem que nem sei o nome. O que fez ele voltar e me ajudar? Tenho certeza que foi empatia, é impossível não ajudar alguém que está ali da mesma maneira que você, entregue ao acaso, á jornada.

Voltar dessa viagem e perceber que podemos e devemos ter empatia com todos os é um dos aprendizados, afinal ironicamente, estamos todos no mesmo caminho querendo vencer essa jornada. Seja alguém que para e percebe o outro, seja aquela pessoa que oferece aquela mão para levar alguém ao topo, e não pense que ninguém te levará, de mãos dadas se chega até mais rápido, melhor ainda se for cantando.

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