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Repressão sexual feminina

Estou há alguns dias maturando escrever sobre este tema. Não porque tenho dificuldade em ter inspiração, o que é uma verdade também, mas porque é um tabu entre nós. Antes deste, fiquei elaborando vários modos de começar e percebi que o único motivo da dificuldade é porque a trava ainda está bem forte em mim também.

Na verdade, quero falar sobre sexualidade feminina, masturbação feminina, orgasmo feminino e estava buscando outras palavras para não soar “vulgar”. Estava ensaiando um texto quase romântico pra falar de prazer feminino. Só que o sexo nem sempre é romântico e, muito menos, estético.

Repressão feminina é um paradoxo, já que somente a mulher tem a anatomia perfeita para o prazer: o clitóris que é feito especificamente para o orgasmo feminino. Só nós podemos ter orgasmos múltiplos.

De onde vem então essa dificuldade? A gente já sabe: Do machismo, do patriarcado, de frases politicamente corretas e de atitudes fortes, de olhares repressivos diante dos desejos femininos.

Na nossa formação, aos poucos fomos moralizando a forma como vemos nosso corpo e nosso prazer.

Pra piorar, somado ao tabu da sexualidade está o tabu do corpo. Não somos modelos e a maioria de nós tem dificuldades com alguma, ou muitas partes do seu corpo. Generalizando um pouco, enquanto os homens são expostos a piadas sexuais e a conteúdo pornográfico de todos os tipos, pra nós sexo é feio, perigoso, tem que ter cuidado, tem que ter o lugar certo, a hora perfeita e o corpo perfeito. O corpo do homem pode ser desnudado – o nosso é pecaminoso, o corpo de Eva.

Pensando no desenvolvimento do homem e da mulher, numa relação heterossexual esse cálculo só pode dar errado: enquanto eles acham que o prazer da mulher é parecido com aquele que ele viu nos filmes, a mulher acha que vai atingir o prazer agradando-o, ou fazendo uma performance dissociada daquilo que ela está sentindo.

Só que isso não é tão simples de reverter, fica marcado na nossa pele e se manifesta em muitos momentos: na hora do sexo casual, na hora de se entregar a uma relação, na hora de sentir tesão, na hora da masturbação, na hora de reclamar os seus desejos, na hora de acender a luz.

Só de tempos pra cá começamos a ser estimuladas a pensar na nossa satisfação em todos os contextos da vida, e por que não também no sexo? A nível de saúde, essa repressão é causadora de inumeras angústias, como consequência, de crises intensas de candidíase, motivo de muita dor de cabeça na hora de transar.

Então, como desbloquear? Não há uma resposta única e não é um processo linear, mas a melhor maneira pra começar é conhecer o próprio corpo e se permitir sentir. Assim, é mais fácil distinguir o sim e o não. Tenho certeza que todo mundo vai aproveitar (leia-se gozar) muito mais e melhor.

Por Juliana Soeiro

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