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Rebrand yourself?


2022 começou e começaram as listas de metas anuais. O que faremos neste ano de diferente? Quais são os desejos? O que queremos colocar em prática que ainda não emplacou?


É natural termos esse tipo de pensamento logo que se inicia um novo ciclo. Os rituais de início ou de término de situações são extremamente importantes: eles nos permitem uma melhor organização psíquica e nos oferecem possibilidade de analisar o passado, olhar para o vivido e reajustar a rota.


Obviamente em 2022 esse processo não estaria mais nos nossos cadernos pessoais. Os desejos vão para as redes sociais: a grande diferença deste momento é que agora as metas são editadas e divulgadas como publicidade pessoal.


Muitos vídeos do tik tok vem trazendo uma trend “2022” com a ideia de “rebrand yourself” (reformule-se). Vídeos que em poucos minutos trazem uma propaganda de uma vida saudável que inclui corpo magro, alimentação saudável, exercícios físicos, trabalho organizado, leitura de livros, etc.


Hábitos em sua maioria saudáveis, mas não há nada de saudável em não incluírem permissão para a instabilidade. A vida vai se transformando em um grande “check list”, sem espaço para a espontaneidade.


Os motivos dessa busca por um estilo de vida “equilibrado” têm como fundo a necessidade de pertencimento. Carentes de conexões, as pessoas vão tapando “defeitos” para evitar a rejeição e vão montando uma realidade paralela, mais palatável, pois a vida real não consegue proporcionar essa estabilidade. Na vida real tem cansaço, tem imprevistos, tem rupturas, tem lutos, tem covid, tem peso...


As consequências disso são inúmeras: a comparação que culmina em baixa auto estima, a cobrança excessiva por melhor performance, a necessidade de apresentar resultados, a exaustão... No entanto, uma das piores consequências diria que é a proposta de sermos produtos de nós mesmos.


Se nos tratamos como objetos que precisam estar em constante produção, como vamos nos relacionar com o outro? Como não vamos estar esgotados? Como não iremos cobrar dos demais a mesma “perfeição”?


É responsável conosco alinharmos a nossa vida conforme necessidades e desejos desde que eles sejam pessoais e intransferíveis, levando em conta somente os nossos processos, a nossa realidade e nossos valores.


É saudável percebermos se o que estamos colocando tem a ver com uma realização nossa ou com uma pressão externa para nos sentirmos aceitos. Ou ainda, será que essa realidade criada na rede social não está sendo uma fuga dos problemas reais? Com certeza não é uma distinção fácil, mas seguramente os nossos anseios mais profundos não vão estar em vídeos prontos de outra pessoa.


Por Juliana Wesendonk Soeiro


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