Hoje, 26 de março, aniversário de Porto Alegre, nem tocamos no assunto. Não comentamos sobre as coisas boas ou ruins da cidade, não reclamamos do tempo, não aproveitamos o pôr do sol com chimarrão na beira do Guaíba. Só sei do seu aniversário por causa do stories de uma amiga atenta.
Não falamos mal da política do nosso governador ou do nosso prefeito, não fizemos nem menção aos buracos da rua ou a falta de lugares para sair. Porto Alegre fez 247 anos e não dei nenhum passo para fora de casa. Já que não caminhei por aí e já que não vai ter bloco da laje em março, quero me desculpar com a cidade pelo “mau uso”.
Muitas vezes fui bastante ingrata, reclamei do frio do cacete que me faz tremer dos pés à cabeça ou do calor infernal de janeiro. Também reclamei demais do fato de não ter praia, de não ter moradores tão abertos e expansivos quanto pros lados lá de cima.
Tudo ficou secundário. Nossos problemas antigos ficaram secundários e a cidade ficou secundaria, tanto seu aniversário quanto nossos maiores problemas com ela. Temos aquele “algo maior pra pensar”.
Não quero que se sinta traída, hoje me percebo uma fã. Gostaria de agradecê-la pelas suas ruas arborizadas, pelo Mercado Público, pelo Bom Fim, pela Redenção, pela Zona Sul, pela escadaria da Borges, pela vista da Apamecor.
Tenho saudades, ontem chorei por não poder circular por aí. Queria mesmo era tomar uma cerveja com meus amigos na Cidade Baixa enquanto discuto e me preocupo com as eleições para prefeito.
Não sou dessas pessoas que só dá valor quando perde, mas hoje, com certeza dei ainda mais valor para tudo que a cidade me proporciona. Hoje o máximo que posso ver é a minha janela. Já fico super feliz de ser uma vista boa o suficiente para eu não perder um pouquinho do pôr do sol ou das estrelas.
Parabéns Porto Alegre, espero vê-la em breve. Quando essa quarentena acabar, recompensarei essa ausência, o GPS não vai dar conta do meu paradeiro, só volto pra casa pra dormir.
Juliana W. Soeiro
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