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Por que a culpa é nossa?

“Todas seguimos em frente quando percebemos como são fortes e admiráveis as mulheres a nossa volta” Rupi Kaur.

No ano em que a Lei Maria da Penha completa 13 anos, percebemos que pouco evoluímos no sentido de proteger as mulheres brasileiras, que diariamente viram números nas estáticas de casos de assédio, importunação sexual, agressão física e verbal, estupro e assassinato.

O nosso país aparece em quinto lugar entre os 84 países com maior taxa de feminicídios. De acordo com a BBC, todos os dias há uma média de 13 assassinatos de mulheres no país.  Só nos primeiros messes do ano de 2019 fomos atropelados por uma enxurrada de casos de feminicídio. É assustador!

Recentemente, tivemos o desprazer de ouvir que talvez os números cada vez mais alarmantes de mulheres violentadas e mortas por seus companheiros ou ex-companheiros, seja a iminente ascensão feminina na sociedade atual, que “intimida os homens”. Isto é, mais uma vez a culpa é da vítima e não do agressor.

Nas palavras de Débora Diniz “Os homens que ameaçam a mulher são apenas covardes”. Nessa linha, é hiperativo que tenhamos total consciência de que perpetuar pensamentos que reafirmam a cultura machista e de ódio, tão presente no Brasil e no mundo, usando a emancipação e o empoderamento feminino, nada mais é do que uma manobra medíocre para nos fazer sentir culpadas, intimidadas e descrentes de nossos avanços.

Tenho absoluta certeza de que cada mulher que eu conheço – e as que não conheço também – travam diariamente verdadeiras guerras contra o sexismo, a misógina e o machismo que nos mata, dilacera, ceifa.

Nesse sentido, dia desses tive o privilégio de comprovar que sim, nós somos fortes, somos aguerridas, somos uma força avassaladora da natureza… Ouvi o relato triste, mas narrado com tanta força e garra, de uma mulher que felizmente conseguiu escapar dos números das estáticas, conseguiu fugir do mapa de feminicídios do nosso pais, conseguiu romper um ciclo de violência e abusos físicos e psicológicos.

Nesse relato, eu vi a coragem nos seus olhos, vi a garra na sua voz, vi a vibração e o sentimento de vitória em cada palavra que saia da sua boca. Essa mulher incrível, que eu tanto admiro, na época era apenas uma adolescente, mas conseguiu sair de um relacionamento que a maltratava, humilhava, espancada, violentava. Ela saiu. Ela superou. Ela venceu. Essa vitória é um símbolo para todas nós.

Diante dessa nossa conversa, eu fiquei completamente anestesiada com tudo o que ouvi. Eu recebi dela uma dose de força, de determinação para seguir firme, mesmo que as minhas lutas não sejam especificamente as mesmas que as dela… Eu entendi que talvez seja esse o nosso papel… Isto é, nos apoiarmos, protegermos, celebrarmos. Ela dividiu comigo esse capítulo terrível de uma vida que, graças a sua coragem, acabou com um saldo positivo. Acabou com uma mãe leoa que protegeu seus filhos, que recuperou sua voz, sua essência, sua identidade.

 Talvez o caminho para a liberdade e igualdade de gênero e racial ainda seja muito longo e árduo, mas são mulheres como ela, que nos dão combustível para acreditar que é possível, que um dia chegaremos lá… Um dia não seremos tratadas como inferiores, como uma “ fraquejada”, não teremos nosso papel de destaque, que foi conquistado duramente, usado para minimizar essa cultura doentia e machista que está matando uma mulher a cada minuto.

Quanto ao nosso papel de destaque, desejo fortemente que, movidas pelas forças de centenas de milhares de ancestrais, que anos atrás lutaram como só uma mulher sabe lutar, sigamos peleando por nossos direitos, por nosso espaço, por nossa voz. Desejo que sigamos tendo força, como a heroína dessas palavras, para romper com esse ciclo perverso e mortal, que é o ciclo da violência, seja ela qual for, importante ressaltar! Por ela e por tantas outras irmãs que, infelizmente não tiveram o mesmo final feliz, é vital que continuemos firmes e fortes.

Ryane Leão já dizia que “Nem todo mundo vai compreender isso tudo que você é. O que não significa que você deva se esconder ou se calar. O mundo tem medo de mulheres extraordinárias”.

E esse exercito de ‘Mulheres Extraordinárias’ vai marchar embalado por um milhão de mulheres que vieram antes…Removendo  as montanhas da misoginia, para que as próximas gerações de mulheres possam ver muito mais além dessas montanhas. (Parafraseando Rupi Kaur).

Por Amanda Alves Rodrigues

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