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Para onde for, não volte o mesmo.

Meus dias de viagem estão acabando, começa a apertar o peito, a saudade de voltar para a casa aumenta, mas a saudade dessa experiência que se encerra é maior. Dizem que sofrer por antecipação não está com nada, mas eu sei que me despedir de tudo aquilo iria doer um pouquinho, por tudo que aprendi, por tudo que vivi, ouvi e fiz. Com certeza algo que nunca esquecerei. França, Espanha e Portugal me tornaram mais segura de mim, mais corajosa, mais gordinha também, admito! Mas principalmente mais feliz comigo mesma, e é claro que a gente não quer se afastar desses sentimentos porque acha que o lugar é o responsável por isso. Mas não, o único e responsável por se sentir bem ou mal consigo mesmo é você, onde quer que esteja. O que importa é o que você faz com esses sentimentos, se deixa eles tomarem conta ou aprende com eles. Minha missão agora é trazer todo esse aprendizado para o Brasil, para Porto Alegre, na minha rotina diária.


Sou grata todos os dias pelas dores que senti no Caminho de Santiago, pois eles me alertaram a respeitar meu corpo, mas também me motivaram a seguir, a não desistir assim tão fácil. Sou grata pelas vezes que me senti sozinha, tão sozinha que sufocava, mas que me fizeram amar cada minuto comigo mesma. Sou grata por ter me perdido na neve, no meio da chuva, caminhando sem rumo até o desespero bater porque perdi a sinalização, até encontrar um casal de suecos que me ofereceram uma barra de chocolate, caminharam comigo até o hostel da próxima cidade e me deram um novo sentido para a palavra empatia. Somos amigos até hoje. Grata por aquela montanha que fez eu perder meu fôlego na subida, ficar sem ar e achar que vou morrer ali mesmo, perdida no meio do nada, até chegar um francês de dezenove anos, com o seu radinho trocando um rap pesado, me olhar e dizer: respira comigo! Ok! Vamos? De mãos dadas, subiu comigo até o topo da montanha. Fez um sinal se estava tudo bem e seguiu. Não sei o nome dele e não o encontrei mais. Grata por ter chegado em Santiago em um dia de chuva, escolher um hostel para descansar e esperar o momento certo para ir até a Catedral, no caso no outro dia, com um sol tão forte e aquecedor que me fez dormir no chão da praça ao lado de vários peregrinos, pois não queríamos sair dali, tamanha emoção de ter conseguido.

Sou grata por tudo que vivi e ainda quero viver, mas agora com todos esses ensinamentos, quero perder o fôlego, quero caminhar sem rumo, quer ter solitude, quero estar rodeada de amigos, quero saber o momento certo para cada ocasião. Não importa mais o lugar, agora estou aqui, amanhã, quem sabe. Mas continuarei eu mesma (ou não), inteira e aberta para um mundo de possibilidades.

Por Gabi

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