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Os movimentos sociais de denúncia de abusos

OS MOVIMENTOS SOCIAIS DE DENÚNCIA DE ABUSOS

Marlene Neves Strey

Recentemente tem se espalhado por todo o mundo um movimento de denúncia de abusos cometidos por homens, com algum tipo de poder, principalmente na área do cinema e dos espetáculos, o chamado showbusiness, sobre mulheres que almejavam fazer parte dessa área, como atrizes, cantoras etc. Isso tem passado principalmente em lugares onde a luta contra o machismo e a discriminaçao das mulheres já tem uma longa história. A ideia era que, aparentemente, esse tipo de abuso era coisa do passado. A partir das denúncias, pode-se constatar que segue vigente, que nao acabou. Apesar de todos os avanços, sempre que há uma brecha, u,ma oportunidade, os abusos e a violencia seguem sendo cometidos, sendo as mulheres as principais atingidas.

Segundo o periódico espanhol El País, de fato, apesar de que as legislações de todos os países avançados proíbem a discriminação de gênero nos locais de trabalho, isso não só acontece, como é plenamente visível, à vista de todos. Segundo esse jornal, as estatísticas, mostram que as carreiras das mulheres são mais curtas e fragmentadas. Além disso, recebem menores salários e custam mais a ser promovidas, isso quando o são. Se isso não fosse suficiente, ainda tem que sofrer culturas organizacionais em que a condescendência masculina e os comentários e atitudes sexistas são considerados normais.

Parece que essa situação acabou por fazer explodir a indignação e frustração de inúmeras mulheres que vieram a público denunciar os abusos sofridos. Como são mulheres famosas, o retumbar de suas acusações foi enorme, com vasta divulgação por todos os meios de comunicação. Foram ditas palavras duras que ocasionaram a queda de homens outrora ou ainda poderosos. Como seria de se esperar, inúmeras outras vozes se levantaram em defesa de muitos desses homens, dizendo que está havendo uma caça às bruxas, que tudo é muito exagerado e que todos devem ser considerados inocentes até que se prove o contrário. Além disso, esse movimento seria um efeito do puritanismo norteamericano, como sublinhou um manifesto escrito por mulheres francesas.

E agora, o que pensar?

Em todo o movimento social, majoritário ou minoritário, existem e existirão problemas, falsidades, oportunismo. Isso não significa que o movimento não seja válido se estiver baseado na denúncia de abusos e discriminação. Obviamente nem todos os homens são abusadores. Não é sobre esses homens que recai o peso da denúncia e sim sobre aqueles que efetivamente usam de algum tipo de poder para aproveitar-se de vulnerabilidades para usufruir algum prazer, sexual ou não. Então, esse movimento deve ter o apoio de mulheres e homens que não concordam que se possa abusar de quem está sob nosso poder. Isso não significa que o flerte, a sedução, vão acabar. Significa que não deve ser tolerado o abuso, a insistência quando a mulher diz não, o uso de um cargo, influência, ou posição social para obter um sim forçado.

Nós, as mulheres, devemos estabelecer uma relação de sororidade em que, quando uma mulher é atacada, abusada, violentada, devemos todas nos sentir atacadas, abusadas, violentadas. Isso não significa odiar aos homens, nem querer deixar de lado o afeto, o amor e o carinho para com eles. É simplesmente enfrentar o que não está certo, enfrentar quem diz que as mulheres dizem não quando querem dizer sim.

Para finalizar, gostaria de repetir o que o jornal El Pais sugere para o enfrentamento do problema. Primeiro, que a justiça funcione adequadamente para perseguir e sancionar esses delitos, pondo fim à impunidade que ainda acontece nos dias atuais. Segundo, que as empresas devem comprometer-se realmente em acabar com a cultura organizacional que permite esse estado de coisas. Terceiro, no âmbito cultural e social, que permite a desigualdade entre homens e mulheres, o que deriva em abuso nas empresas e em outras instituições. Os poderes públicos tem que estar vigilantes e garantindo que o abuso não ocorra e, se ocorrer, seja devidamente enfrentado e punido.

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