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O tempo da mulher

Certa vez assisti a uma palestra da psicóloga Martha Narvaz sobre violência contra a mulher, na qual ela afirmava que se produz uma dicotomia entre o tempo do operador do direito e o da mulher. O operador do direito precisa de um tempo muito rápido para decidir e a mulher, para tomar uma decisão com segurança, precisa de um tempo muito longo.

O Instituto Avon, em parceria com a Vital Voices, organização norte-americana de direitos humanos, promoveu nos dias 08 a 11 de maio, em Brasília, o 2º Workshop Internacional de Acesso à Justiça, programa Respostas Eficazes à Violência contra as Mulheres. Esta formação visou capacitar agentes públicos para superar os obstáculos na denúncia, investigação e resolução dos casos de violência contra a mulher. Segundo a Vital Voices a investigação é uma fase importantíssima de um processo, mas não deve estar focada unicamente no depoimento da mulher, pois isso a coloca no papel de culpada pelo que vai acontecer ao homem. Os agentes públicos devem conhecer protocolos de atendimento, características da situação de violência doméstica, fatores que dificultam a mulher sair do ciclo de violência, fatores de risco, comportamentos intimidatórios e a vitimização secundária das crianças. A formação foi vivencial, permitindo aos agentes reconhecer fragilidades que podem aparecer nos atendimentos, questionando posturas protocolarmente adotadas. Mas também enfatizou que a comunidade deve estar envolvida no enfrentamento à violência contra a mulher. O machismo continua sendo o principal fator de permanência desse tipo de violência na nossa sociedade.

Ao encontro dessa ênfase, uma pesquisa do Instituto Avon, realizada entre setembro a novembro de 2016, em várias regiões do país, sobre o envolvimento dos homens na desconstrução do machismo, revelou que a população tem uma percepção clara da existência da desigualdade de gênero. Esclareceu, ainda, que persistem práticas e costumes que perpetuam a desigualdade e o preconceito, como tornar a mulher culpada nos casos de estupro e vazamento de fotos e vídeos na internet. Apesar de setenta e nove por cento da população considerar o machismo negativo, trinta e um por cento dos homens entrevistados gostariam de não ser machistas, mas não sabem como agir. Isso nos leva a importância de pensar o papel do envolvimento da comunidade nesta tarefa.

Em Porto Alegre, a Associação de Juízes do RS, AJURIS, promoveu, de 15 a 17 de maio, um Workshop de Supervisão e Aprofundamento para Facilitadores de Justiça Restaurativa, com Kay Pranis. Para esta formadora, os processos circulares podem ajudar em dois tipos de trauma: a sensação de não ter poder, como acontece na violência contra a mulher, e a desconexão, que ocorre por que a pessoa afetada perde a confiança não só no agressor, mas em todas as pessoas.

Por Ivete Machado Vargas

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