top of page

O solitário lugar da mulher vencedora


" Chora para dentro como uma vencedora"

" Tem que ser alguém na vida"

" Precisa chegar lá, minha filha"


Essas três frases clássicas da minha mãe vem ecoando na minha cabeça nos últimos meses ( ou quem sabe nos últimos anos), me fazendo encarar os espelhos que eu sempre ignorei, me fazendo questionar o meu lugar no mundo, especificamente o meu lugar nessa engrenagem que é o mundo corporativo.


Eu sempre fui a pessoa que planejou tudo, que calculou cada passo, que sempre acreditou que precisava chegar lá.


E agora, aqui, beirando os 32 anos, eu não sei se estou perto de estar lá, não sei se estou no caminho certo para me tornar a mulher vencedora que fui criada pra ser.

Vocês, em algum momento, já se perguntaram onde fica esse tal " chegar lá"?, como sabemos que " chegamos lá?".

- Em que momento a mulher vencedora irá se apresentar a mim?

Pausa para mais uma crise existencial/ansiedade.... " Tu precisa chegar lá e saber que muitas vieram antes, trilhando esse caminho, para que tu pudesse caminhar por ele" Eu cresci ouvindo isso da minha mãe, da abuela e das tias. Eu posso ver todas elas me olhando neste momento e me dizendo que estamos quase lá.... Então por qual motivo eu não me sinto nem perto de estar lá?


Por qual motivo a minha sensação é a de que o caminho para esse lugar místico que é o lugar da Vencedora, não é meu, não me pertence, não está na minha jornada? Aqui, sozinha com as minhas ponderações, eu olho para cada mulher que passa por mim nesse trajeto de volta para casa e penso: Em que momentos iremos discutir esse lugar solitário da mulher vencedora? Em que momento falaremos sobre as renúncias e sobre os abismos que contornam o árduo caminho da "mulher vencedora"?!

Por que as meninas são criadas sob esse espectro, enquanto os meninos crescem livremente, à espera do seu lugar de direito?

Por que, em pleno ano 2022, as mulheres seguem tendo que optar entre uma coisa ou outra?

Eu tenho dito nos últimos meses que fomos enganadas, que mentiram para todas nós durante todos esses anos. Afinal, nós não podemos ter tudo! Nós nunca tivemos essa opção. Ou se é uma coisa ou outra, mas nunca as duas ao mesmo tempo. Eu queria, com todo o meu coração, acreditar nessa linda fábula que nos contaram de que podemos ser todas as coisas, mas, infelizmente, me parece que cada vez mais precisamos escolher entre ser mãe ou ter uma carreira, ter uma carreira ou ter um relacionamento, ter amigos ou ter uma carreira.

Ou seja, de qualquer forma nós sempre saímos perdendo.

Eu vejo algumas mulheres próximas a mim tendo que lidar exatamente com essas renúncias... Ou são boas profissionais ou boas mães/esposas, mas nunca os dois. Não há espaço para que ambos os lados coexistam!

Outro dia ouvi essa frase de uma prima " Nesse momento eu tenho que pensar nos meus filhos, infelizmente eu não posso trabalhar agora"... Para mim, que estou um momento decisivo na minha vida profissional, ouvir essa frase foi como um soco, foi como ser assombrada pelos fantasmas do machismo que obriga as mães a desistirem de suas carreiras porque não podem conciliar a maternidade e o trabalho.

Eu quis abraçá-la e dizer que estava errada, mas eu não pude!

Eu sei que nesse momento posso estar soando pessimista, amargurada e ressentida. Talvez eu esteja... Ou talvez seja apenas o medo gritando bem alto. Talvez pela primeira vez na vida eu tenha me dado conta de que eu sempre terei que fazer renúncias, o que me faz ter ainda mais respeito pela minha mãe - e por todas as mulheres/mães- porque hoje eu consigo entender todas as renúncias que ele fez em nome da maternidade.

Ao mesmo tempo, uma fúria descomunal paira sobre mim e me faz querer reivindicar, me faz querer ter o poder para mudar essa realidade. Eu queria gritar, protestar, sair pelas ruas entoando cantos e militando por todas nós. Ah como eu queria ter esse poder!

A realidade cai sobre mim e as lágrimas brotam dos meus olhos... O meu sentimento agora é o mesmo que tive no dia em que descobri que o coelhinho da Páscoa era o meu pai!

Agora...

Estou aqui, a beira do sonhado lugar místico que eu idealizei, vendo de longe todas as vencedoras que me antecederam e penso: " Como eu faço para alcançá-las? Será que eu já posso ganhar minha carteirinha de vencedora? Será que já lutei e renunciei o suficiente?

"Estamos quase lá" é o que eu tenho dito para mim mesma quase como um mantra ou um pedido de socorro.


Por Amanda Alves Rodrigues

Comentários


bottom of page