O que você faria se o medo não te impedisse?
- universofemininoem
- 16 de jan. de 2023
- 4 min de leitura

Uma vez nos tempos de escola, lembro de querer dar "estrelinha" tão lindamente como minha prima Vanessa.... Ela era atlética, forte, robusta e dava estrelinha nas aulas de capoeira como ninguém. Como boa capricorniana que sou, eu analisava os seus movimentos, estudava sua anatomia e tentava assimilar na minha cabeça os movimentos. Eu analisei por meses, mas nunca consegui dar aquela "estrelinha" como ela... Acontece que eu sempre desistia no meio do caminho, sempre travava minhas pernas, sempre era consumida pelo medo e simplesmente parava. Na época do vestibular lá veio o meu amigo medo... Simplesmente não conseguia conceber um "fracasso"... Eu tinha que ser a melhor! E aí veio a primeira lição da vida adulta: Nem sempre as coisas são como a gente quer! O curso que eu idealizei por quase toda a infância não cabia no nosso bolso... Naquele momento, o medo de não ter o controle sobre o meu futuro me paralisou! Mamãe me disse: "Filha, pega esse sonho e guarda numa caixinha... Um dia, quando for possível, tu vai lá e tira ele da caixinha. Por agora, vamos fazer o que estiver ao nosso alcance". Fui pra prova do vestibular complementar da Puc morrendo de medo e assustada, pensava que não podia sair daquela linha que eu havia traçado muito cedo, lá pelos 11 anos, época em que sem querer me despedi da minha versão criança e vesti a versão adulta precocemente. Os 4 anos de graduação foram um apanhado de medos e de inseguranças. - " O professor não corrigiu direito essa prova", foi o que eu disse quando gabaritei minha primeira prova na disciplina de literatura comparada. Quando entreguei meu TCC dois meses antes do prazo estipulado pensei comigo mesma " Eu só terminei antes porque tive tempo"... Olha eu, mais uma vez, desmerecendo o fato de trabalhar, estudar, fazer estágio, organizar a formatura da turma e lidar com a iminência da morte da abuela. O medo de me celebrar me fez pôr em dúvida todas as minhas conquistas naquela sonhada graduação! Os anos se passaram e eu segui sendo permeada pelo medo absoluto de tudo... De certa forma o Medo virou meu amigo, sabe? Nós seguimos de braços dados nos últimos anos. E aí alguma coisa mudou nesse tão difícil ano de 2022... Lembro que no início do ano, enquanto eu conversava com mamãe e Iemanjá, o salgado do mar se misturou com o sal das minhas lágrimas de derrota e cansaço, pedi pra ambas as mães que me dessem um sinal de que me ouviam/sentiam o meu medo e a minha exaustão. - Elas me ouviram! Eu fiz coisas inimagináveis pra mim, tão temerosa e "certinha"... Tive que sair da minha caixa na marra, arrancada mesmo! Eu tive que lidar com um tipo de medo que era novo pra mim, que era o medo de me desafiar... Tive que aprender a extrair o meu melhor e saber lidar com as frustrações banais e cotidianas. Se alguém me dissesse que eu faria as coisas que eu fiz esse ano eu teria rido alto e pensado " Eu? Jamais!". Eu fui quebrada ao meio e tive a minha capacidade colocada a prova, mas mesmo assim eu reagi e superei o medo, aquele que virou meu amigo, lembram? Eu enfrentei o medo de me destacar, de falar em público, de ser firme e assertiva, de dizer NÃO, de errar, de falhar! Eu enfrentei o medo de me libertar de tantas coisas, como falar um palavrão bem alto, sabe? Como forma de exorcizar os demônios de estimação. Perdi o medo de me mostrar vulnerável, perdi o medo de me mostrar de verdade para as pessoas, eu me deixei ser vista para além da guria de cara séria e batom vermelho. Perdi o medo de recomeçar! No último sábado eu perdi o medo de falhar e fiz algo inédito pra mim. Participei da minha primeira corrida de rua oficial, cercada por atletas de ponta e eu lá, super animada e orgulhosa com o meu número 404! O amigo medo veio forte e quase me fez duvidar de mim, embora eu tenha treinado nos últimos 4 meses todas as semanas, sem falhar! Eu, a mulher que fez quase 9km num calor de 30º, que enfrentou o pior que a vida podia lhe proporcionar, que se desmontou em vários pedaços nos últimos anos e depois fez um mosaico de si para poder seguir em frente... Logo eu, senti medo de falhar, quando na verdade não existia essa possibilidade, afinal a corrida é um dos poucos esportes em que não existe oponente além de você. Eu precisei me driblar e entender que aquela minha jornada não era sobre ser a melhor, mas sim sobre enfrentar o Medo que eu sempre tive de me desafiar. Ali, cercada por pessoas conhecidas e desconhecidas, rostos sérios e alegres, tensos e tranquilos, eu transitei entre a minha versão medrosa e a minha versão Agojie (quem viu o novo filme da Viola Davis vai entender)! Gente, num sábado de quase 40 graus eu corri 5km numa Orla lotada!! Eu corri com pessoas super preparadas, atletas de ponta, mas também com pessoas que assim como eu estavam ali para se desafiar. Eu consegui! A medalha de bronze que eu ganhei foi gratificante e super comemorada por mim, mas para além dela eu me dei conta de que as minhas lentes precisam ser mudadas para ver a beleza das pequenas vitórias da vida adulta... Eu corri com medo mesmo, com insegurança e ansiedade, pra entender no final, naquela fração de segundos entre subir no meu primeiro pódio, que eu sou perfeitamente capaz de fazer absolutamente TUDO! Na finaleira de 2022 eu me dei conta de que realizei duas de algumas resoluções de ano novo pelo simples fato de não temer falhar, eu simplesmente fui! Como dito pela minha musa Maya Angelou: "(...) Coragem não é ausência do medo, é seguir mesmo com medo... É algo que se adquire com pequenos atos de bravura". A minha medalha de bronze foi o meu "pequeno ato de bravura", mas também o meu farol para olhar a minha jornada com mais amor, mais respeito e empatia por mim! Desejo que em 2023 todas vocês possam se perdoar por acreditarem que poderiam ter feito melhor, quando não sabiam como! Desejo que vocês celebrem cada pequeno ato de bravura!
PS: Gabi, meu amor, obrigado por inflamar a Viola Davis que habita em mim! Você é minha dose diária de coragem.
Até a próxima, irmãs!
Por Amanda Alves Rosdrigues
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