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O quarto de Virginia Woolf

Ao ler o livro, Um quarto que seja seu, de Virginia Woolf – escritora e ensaísta britânica e uma das figuras mais importantes do modernismo –, parei para refletir sobre a situação da mulher, questionei o porquê de apenas ser um quarto e não uma casa ampla com varanda, com uma decoração requintada com detalhes de acordo com o seu gosto. Afinal, merecemos tudo isso. Bem, na época em que foi escrito o livro, em 1928, um simples quarto seria o suficiente.

O que mais precisaria uma mulher daquele tempo do que uma peça para transitar sem ser julgada, discriminada, humilhada, sofrer todo tipo de violência? Um quarto bastava, mesmo que não tivesse janela para contemplar a natureza ou as pessoas transitando de um lado a outro em busca de seus destinos. Talvez não tivesse luz elétrica, mas teria a paz que não encontraria lá fora, onde não podia transmitir seus desejos nem tampouco realizá-los, talvez nem sequer julgasse pensá-los, pois a culpa por estar transgredindo valores arraigados iriam tirar seu sono e deixá-la intranquila.

Nesse quarto, porém, poderia andar à vontade, talvez de roupa íntima ou até quem sabe nua. Poderia conhecer seu corpo e se deparar com uma pessoa desconhecida que vivia escondida em roupas que disfarçavam sua beleza e não permitiam um contato verdadeiro com si mesma. E porque é bom sonhar, poderia alçar voos tanto quanto achasse necessário, se deslocando no tempo e em lugares em busca de uma rotina que a mulher da época não podia experimentar.

Virginia foi muito longe no tempo, talvez não tivesse ideia que seus pensamentos iriam ser os de hoje, quando a mulher pode expandir todos seus segredos, antes guardados num quarto, e trazê-los para fora e dialogar com outras mulheres sobre suas vidas, seus anseios e desejos sem mais precisar reprimi-los e sufocá-los por não poder exercitar verdadeiramente sua essência.

Virginia, adorei ler teu livro e me colocar no teu tempo para poder entender a dimensão do quão são importantes as conquistas da mulher e o muito ainda que temos que fazer.

Ótima semana!!!

Por Rosane Machado

Mestranda em Estudo Sobre as Mulheres, Gênero, Cidadania e Desenvolvimento pela UAB de Portugal

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