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O “poderoso” João de Deus

Costumo escrever sobre assuntos relacionados à mulher de um modo geral, mas jamais pensei estar aqui para falar de um homem considerado por muitos um mito, uma divindade que supera a ciência humana. Milhares de pessoas ao serem desenganadas pela medicina foram ao seu encontro, como uma última esperança de conseguir mais dias de vida, de se restabelecer e se curar de alguma doença. Há também, como a holandesa Zahira, os que o procuram em busca de espiritualidade, para tratar um trauma de abuso etc.

Diante dessas acusações que estão expostas na mídia esta semana, as muitas mulheres que já estiveram com ele se sentiram perplexas, frustradas e desencantadas com o homem que admiravam. Essa jovem citada acima foi a única que quis se expor, mas levou quatro anos mantendo segredo, pois sabia que, devido à devoção a ele de milhares de pessoas, um grande número poderia condená-la por trazer à tona um fato que poderia manchar sua imagem de homem santo. Seu poder supera limites, inclusive de não conseguir ser abandonado por seus fiéis, que o defendem acima de tudo, em especial porque precisam de sua ajuda.

Quanto a isso não estou fazendo nenhuma crítica, mas apenas me solidarizando com as mulheres que vieram a público, mesmo preservando sua identidade, e reviveram momentos sofridos ao lado dele, o constrangimento do inusitado que as deixava sem ação, sem saber ao certo o que estava acontecendo. Ele usou seu poder de influenciar suas vítimas, fragilizadas e carentes, e as dominou, impedindo que relatasse a alguém sobre o que acontecia, sob pena de voltar a adoecer, mantendo-as sob seu comando, mesmo que esse segredo lhes causasse um sentimento de repulsa e vergonha, assim como de muita desolação e receio. Para uma jovem, ele disse que era homem, por isso precisava satisfazer suas necessidades, libertando-se assim de qualquer julgamento por estar acima da lei e da ordem.

Penso que você que assistiu as entrevistas e passou pela mesma situação, mas não se sente à vontade de manifestar seu repúdio, por vergonha ou receio de não ser compreendida pelo parceiro ou pelos familiares, avalie o quanto o seu testemunho e o de tantas outras que passaram pela mesma situação poderão de fato impedir que esse senhor prossiga intimidando as mulheres, humilhando-as, tirando sua fé e crença no ser humano.

Fonte da imagem: yotube.com

Ótima semana!!!

Rosane Machado

Mestranda em Estudo sobre as Mulheres, Gênero e Cidadania pela UAB de Portugal.

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