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O poder oculto da maternidade

A palavra “poder” tem uma conotação de força de alguém que influencia um determinado contexto, portanto jamais iria associar com ser mãe, já que isso é algo que sugere docilidade e desprendimento. Porém, ao estudar mais profundamente as mulheres portuguesas da metade do século XIX e início do século XX, descubro que as mulheres conquistaram uma nação com sutileza e expandiram seus gestos de cuidadora para gerenciar a distância uma nação através da exímia educação e formação de seus filhos, pois estes seriam os responsáveis em conquistar o progresso e o bem social.

Irene Vaquinhas, professora e historiadora portuguesa da atualidade, nos ensina que juntamente com a valorização da pátria no fim do século XIX pelo republicanismo veio a valorização da mulher na sociedade portuguesa, sobretudo da mãe, responsável por essa pátria em ponto pequeno que é a família, o lar. Nesse jogo complexo e sutil de associações inconscientes em que a pátria se transfigura numa mulher e que em cada mulher se esconde uma pátria, ambas, porque mulheres, parecem participar de um destino comum ou pelo menos paralelo em que o progresso da sociedade é acompanhado pela valorização crescente do papel social das mulheres.

E assim, ao descobrir a capacidade da mulher e seu poder oculto, buscou-se instruí-la a serviço da classe dominante, que vislumbrou um mundo perfeito tendo-a como aliada. Entretanto, um determinado segmento da sociedade se inquietou, pois se estava prestigiando muito a mulher, e ela poderia se rebelar e querer reivindicar seus direitos de voto e participação na política. Mesmo numa época em que poucas mulheres alcançavam instrução, pois, além de haver poucas escolas para mulheres, a ignorância feminina era considerada uma virtude, foram incentivadas a permanecerem numa função relevante para a nação, sem serem reverenciadas ao ponto de romper com a ordem social.

Ao relatar essa breve passagem, busco reforçar a lembrança de que a invisibilidade das mulheres durou um longo período e assim pontuar que todo esforço no entendimento do seu potencial é ainda um longo processo, apesar dos avanços notáveis na conquista das desigualdades de gênero.

Ótima semana

Por Rosane Machado

Mestranda em Estudo Sobre as Mulheres, Gênero, Cidadania e Desenvolvimento pela UAB de Portugal.

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