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O método Stutz e o meu processo de cura!


Num sábado qualquer, fazendo minha corrida já rotineira, me chamou atenção um grupo de pássaros que voavam em bando.

- Me veio a imagem da minha mãe e as coisas místicas que ela dizia o tempo todo. Interpretei aquilo como um sinal.

No caminho, enquanto sentia meu coração pulsar e a respiração ritmar, pensei em como tenho observado as pequenas coisas da vida, como, por exemplo, aquela revoada linda que rumava para algum lugar... Por algum motivo, enquanto meus olhos acompanhavam cada um deles, me veio o seguinte questionamento: “Por que eu ainda estou brava?”, essa pergunta ecoou na minha cabeça até a minha primeira parada para retomar o fôlego.

E então eu comecei a ter diálogos com pessoas que me magoaram em algum momento, buscando uma resposta para a minha pergunta, eu acho. A primeira pessoa que veio na minha cabeça foi o meu pai... Eu conversei com ele mentalmente por alguns quilômetros. Foi uma das conversas mais difíceis que já tive, mesmo que ela tenha sido só pra mim, mesmo que tenha sido uma ferramenta de cura.

Ali, sentada no meu lugar favorito de POA, eu misturei o sal das lágrimas com o meu suor e tive uma epifania absurda: Eu preciso nos perdoar para poder seguir em frente.

Naquele mesmo sábado, após terminar uma série da Netflix me veio a sugestão do documentário “O Método Stutz”, idealizado pelo ator Jonah Hill e o seu terapeuta, Dr. Phil Stutz.

Pensei comigo mesma “ Vou olhar e se não me pegar em 10min, eu troco para um filme qualquer”. Mas aquele documentário me pegou! Pegou em cheio, se vocês querem saber!

Ele aborda de forma dolorosa e genuína, a importância de perdoar para o seu processo de cura e de autoconhecimento.

Basicamente, o método traz algumas ferramentas que impulsionam as pessoas a agir e a transformar, de forma eficaz, obstáculos em oportunidades, e assim encontrar coragem, disciplina, auto expressão, lucidez para lidar com seus sentimentos e criatividade.

Uma ressalva importante: Quando falamos em saúde mental, sabemos que falamos de indivíduos singulares e que têm processos diferentes. O que funciona para uma pessoa, não necessariamente funciona para outra!

Como o meu intuito não é dar spoilers, indico muito que vocês assistam ao documentário, mas de forma abreviada, queria trazer esse recorte de algo que muitas vezes passa batido para todos nós, que é a forma como nos tratamos...Você já parou para pensar que muitas vezes trata seus amigos, familiares, colegas de trabalho de forma mais amável do que a si mesmo?

Um dos pontos que mais me tocou na metodologia do Dr. Stutz foi justamente entender que eu não tenho poder sobre o outro, logo, não posso viver me culpando por coisas que fogem do meu controle. Diante desse entendimento, eu fui me questionando sobre várias situações que aconteceram ao longo dos últimos quatro anos e que me mudaram radicalmente.

Acho que o processo de luto foi o mais importante!

Sabemos que o processo de luto é algo particular e que leva tempo... Cada um tem seu tempo e a sua maneira de lidar com ele. As pessoas têm aprendizados diferentes nesse doloroso processo. Eu, com toda certeza, posso dizer que o meu aprendizado nesse meu vigente processo de luto foi o abraço despretensioso ao meu afeto e a potência do meu amor.

Mesmo sendo cercada de amor e tendo como mãe uma das pessoas mais amorosas do mundo, eu cresci cercada por mulheres atravessadas por espinhos que fugiam da minha compreensão. Tenho total certeza de que nunca foi a intenção de nenhuma delas nos distanciar da nossa vulnerabilidade, mas isso aconteceu porque nem elas sabiam como serem seres vulneráveis.

Falar de vulnerabilidade, também é falar de perdão! E o perdão sempre foi algo distante pra mim por vários motivos, mas o principal motivo era o fato de eu não me sentir digna de perdão. Nem o meu e nem o dos outros.

Nesse lugar de isolamento, eu me distanciei do meu direito ao perdão! Eu me culpei por tantas coisas e passei anos me auto flagelando por situações que nunca foram sobre mim ou se quer estavam no meu radar. Eu não tinha como controlar aquilo que não dependia de mim.

Nessa linha, cito uma das últimas ferramentas do Dr. Stutz que é justamente o auto perdão... Basicamente ele pede que você visualize aquela pessoa ou situação que te impactou e que vem te segurando ao longo dos anos... Então, a partir do momento em que eu fechei meus olhos, pude visualizar duas pessoas. Uma delas foi uma surpresa pra mim, mas fez todo o sentido. A segunda pessoa não foi surpresa, mas me atropelou muito.

Ali, com os olhos fechados, visualizando aquelas duas pessoas que apareceram, só conseguia me conectar com a voz do Dr. Stutz que dizia o seguinte: “Agora que você conseguiu visualizar, mande todas as energias positivas que você tiver para essa pessoa e perdoe. Encerre esse ciclo e viva a partir de agora”.

Eu não sei colocar em palavras o que aconteceu, mas essa chave virou em mim como que num click e eu cai no choro ali, no meu sofá! Encolhida em posição fetal, eu senti que aquela pata imaginária de elefante que pressionava o meu peito por anos a fio, enfim, tirou seu peso de mim.


- Eu disse para mim mesma “EU ME PERDOO E PERDOO VOCÊS!”

Sendo muito honesta comigo – e com vocês – foi a primeira vez na minha vida que eu realmente consegui me perdoar e perdoar essas pessoas que me machucaram, a partir do momento que tive o entendimento de aquilo não fazia mais sentido pra mim e que também não cabia mais a mim lidar com aquele acúmulo de coisas. Eu devolvi a eles as bagagens pesadas que carregava há anos como Sísifo.

Eu não quero mais esse peso, nem a dor, nem a raiva. Eu quero iniciar um ciclo novo, repleto de luz, de amor, de choro de felicidade, de esperança, de energia boa. Eu quero me reconectar comigo mesma e descobrir quem eu sou sem a dor, sem o ressentimento e sem a necessidade constante de me defender – ou me provar – o tempo todo.

Eu quero pé no chão, quero música alta na minha casa, quero aquele cheirinho de incenso familiar e materno, quero me conhecer ou me reconhecer, quero a bagunça de brinquedos e roupas de bebê, quero livros espalhados em cada mesa de cabeceira, quero minhas plantas abençoando meu lar. Eu quero SER!

O ano de 2022 foi duro e amargo, mas também foi doce, foi leve, foi libertador. Ele me quebrou ao meio e depois foi colando os meus pedaços como um mosaico, sem necessariamente encaixar todas as peças perfeitamente. Eu fui conhecendo uma versão minha que eu nem sabia que existia, fui me reconectando com aspectos que estavam trancafiados no fundo do armário e fui absorvendo o melhor de cada pessoa que cruzou o meu caminho.

Aprendi a rir mais de mim e das situações, aprendi a ser mais observadora e a me preparar melhor para tudo, aprendi a ser mais focada e exaltar a minha resiliência, aprendi a soltar um palavrão bem alto pra colocar pra fora o féu e não deixar jamais que ele crie morada em mim.

Todas essas coisas eu aprendi com mulheres incríveis que entraram na minha vida, formando uma alcateia linda, colorida, risonha e LIVRE.

Como dito pela Deusa maior, Clarice Lispector “Liberdade é pouco. O que eu quero ainda não tem nome!”.

Irmãs, eu desejo com todo o meu coração que 2023 seja mais leve, mais calmo, mais farto e mais solar. Nós não precisamos estar certas sempre, não precisamos lutar o tempo todo e, o mais importante, VOCÊ TEM O DIREITO DE SE PERDOAR!

Até a próxima, irmãs!

PS: Pati, Cris e Naide, obrigado por tudo! (Demais amigos, não se sintam menosprezados, amo todos, mas precisava citar essas 3 surtadinhas hahaahaha)

Por Amanda Alves Rodrigues

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