Nestes últimos tempos tivemos muitos acontecimentos esportivos que envolveram mulheres e homens em várias modalidades de competição. Algumas exclusivas para um gênero (como o mundial de futebol feminino) e outras em que os gêneros participavam – separadamente, mas nas mesmas categorias, como natação (mundial de esportes aquáticos), rúgbi, vôlei de praia, ginástica olímpica e artística etc. (Panamericano). Inclusive, no mundial de esportes aquáticos, existe uma prova de revezamento na natação em que as equipes são formadas por homens e mulheres juntos.
Assim descrito, esses eventos parecem dar sinal que, finalmente, a igualdade entre os gêneros no esporte é um fato e que valeu a pena tantas lutas das feministas para alcançar isso. No entanto, se a gente presta atenção, verá que essa suposta igualdade ainda está longe de ser alcançada. Apresento alguns indícios. Não apenas indícios, mas evidências gritantes de que apenas a superfície parece semelhante, mas que nas profundezas a desigualdade impera e que o lugar das mulheres no esporte é um lugar ainda de segunda classe.
Começo com a questão da rebeldia da capitã Megan Rapinoe do time americano no mundial de futebol feminino. Ela, além de brigar abertamente com o presidente Trump nos meios de comunicação social, recusando-se a encontrar-se com ele mesmo antes de ser convidada, atiçou fogo na campanha por salários iguais entre homens e mulheres no esporte. Ela liderou o movimento na sua seleção, mas foi amplamente acompanhada e apoiada por suas companheiras. Cacife para bancar o movimento tanto ela quanto as demais tinham de sobra, campeãs que foram no torneio. Além disso, derramaram os gritos de “equal pay” do tapete verde para as torcidas nas partidas. Não só a torcida americana, mas todas as torcidas. Não só as mulheres, mas os homens também. Foi lindo de se ver! Principalmente porque elas fazem muito bonito no campo, mas estão longe de ter as mesmas regalias que seus colegas homens, que ganha viagens aéreas em primeira classe e salários e pagamentos de publicidade muito superiores. Foram recebidas como heroínas em Nova Iorque, mas não podem afrouxar nas suas reivindicações, pois é necessário perseverar senão cada palmo conquistado estará em perigo de ser arrebatado como acontece com todas as lutas feministas.
No Panamericano de Lima de 2019, outra história semelhante foi recordada na televisão. A da jogadora brasileira de vôlei, Jacqueline Silva. Anos atrás, quando era membro da equipe brasileira de vôlei, as empresas patrocinadoras decidiram que as mulheres não seriam pagas pela publicidade que levavam estampadas em seus uniformes. Ela, então, decidiu usar o uniforme do avesso e criticou abertamente a Confederação Brasileira de Volei. Gesto de enorme coragem, mas que a levou a ser boicotada e cortada da seleção. Desiludida com nosso país, ela foi para os Estados Unidos continuar sua carreira de atleta profissional. Hoje tem um programa de treinamento com vôlei nas escolas.
Na atualidade, temos o exemplo de Martha e de muitas outras atletas que têm resultados incríveis no campo em que atuam, às vezes melhores que os resultados das equipes masculinas, mas que não recebem os mesmos incentivos, os mesmo salários e o mesmo número de horas de exposição na mídia esportiva. Assim, podemos dizer que muita coisa mudou no reino do esporte, mas, ao mesmo tempo, pouco mudou em muitos sentidos. Ainda estamos no tempo em que as mulheres precisam se esforçar muito mais para receber muito menos e, ainda, têm que ficar felizes com isso, senão acabarão por ser boicotadas ou mesmo expulsas.
Marlene Neves Strey
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