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O Jardim Botânico de Porto Alegre: paraíso em extinção

Ao saber que realmente o Jardim Botânico será fechado, fiquei entristecida, tanto pela demissão dos inúmeros trabalhadores que há anos se dedicam a cuidá-lo como por perder um local ao qual gosto de visitar e que faz parte da nossa cidade.

Aos finais de semana, é o meu local predileto para passear pela manhã, pois o movimento ainda é pequeno. As árvores estendem seus braços com minha chegada, e a brisa faz com que suas folhas se movam reverenciando minha passagem. Mas na verdade sou eu que devo fazer tal gesto em agradecimento pela beleza que me proporcionam. Escolho uma trilha e a percorro sentindo a natureza penetrar na minha alma. Alguns locais são cobertos por árvores, deixando apenas raios de sol invadir o local. Entretanto, ao atravessar a pequena ponte, o céu se abre, contemporizando ao longe o trajeto que ainda falta. Gosto muito de ir na parte de trás, onde poucas pessoas frequentam, pois ali me sinto um pouco criança, brincando de João e Maria e tendo que me cuidar para não se perder.

E agora, onde irei reportar minhas fantasias e me entregar a meus devaneios com tanta devoção se não terei mais esse local para passear? Um espaço que me acolhe, me deixando a vontade enquanto me exercito ou medito e reflito sobre a vida. Muitas leituras foram divididas com a paisagem, que se aquietava nesse momento, respeitando minha concentração, e, quando me movia, as árvores balançavam querendo dividir a alegria pelo que aprenderam comigo.

Foram muitos momentos, muitas trocas que para sempre ficarão registradas. Quando passar por ali, o que faço com frequência, poderei resgatar algum desses momentos apenas para me lembrar do quanto fora feliz naquele lindo local.

Para finalizar, transcrevo uma parte da poesia “O mapa” do nosso grande e amado Poeta Mario Quintana sobre Porto Alegre, mas que tenho a liberdade aqui de transpor ao Jardim Botânico: “[…] Quando eu for, um dia desses,/Poeira ou folha levada/No vento da madrugada,/Serei um pouco do nada/Invisível, delicioso/Que faz com que o teu ar/ Pareça mais um olhar,/Suave mistério amoroso,/Cidade do meu andar/ (Deste já tão longo andar!)/ E talvez de meu repouso…”

Abraços!!!

Por Rosane Machado

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