É muito comum ver homens envolvidos na criação dos filhos aqui em Nova York. Eu cresci num lugar e numa época em que ver isso era bem difícil, então quando estou caminhando pela rua e vejo um pai com um filho no colo, dando mamadeira e levando o outro na mão, eu ainda acho estranho. Me pego encarando e pensando “por que eu ainda fico surpresa vendo isso”? Um dia desses vi um pai bem jovem, na casa dos vinte anos, com dois bebês em um carrinho, outro no colo e um cachorro na coleira. Ele andava pela rua bem tranquilamente e eu não consegui não encarar. Achei estranho, fiquei surpresa e depois me senti mal por encarar a cena dessa forma. Acho que foi a primeira vez que vi isso. Triste, né?
Acho que cresci vendo a mulher como a principal responsável pela criação e cuidado dos filhos. Escrever isso me faz pensar o como é difícil se desprender dos estígmas com os quais fomos criados. Não sei como era a vida aqui nos anos 90, mas no Brasil eu nunca vi isso, ainda mais com tanta naturalidade. Agora que estou longe já faz um tempo, espero que isso tenha mudado e que cenas como a do pai cuidando dos filhos mais um cachorro (e sozinho) não sejam mais alarmantes.
Vejo muitos homens responsáveis por levar e buscar os filhos nas escolas, participar de reuniões de pais, se envolver no mundo da criança e tenho um pouco mais de esperança pro futuro. Acho que estamos educando uma geração que vai encarar a igualdade entre os gêneros com naturalidade e isso me deixa numa felicidade enorme.
Vou finalizar com um exemplo lindo que vi esta semana. Estava em um restaurante e ouvi um menino conversando com a mãe. Ele aparentava uns sete, oito anos. Ele pergunta: “mãe, o que é uma pessoa transgênero, mesmo?”. A mãe responde: o que você acha honey? Ele pensa e fala: “é quando uma pessoa nasce com o corpo de um gênero, mas se vê como outro”? A mãe sorri e diz: isso mesmo. Eu fiquei chocada e lembro que fui aprender sobre isso há poucos anos. Uma vergonha. Por isso, não exito em dizer que essas crianças de hoje ainda vão nos deixar muito orgulhosos.
Por Julia
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