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O dia que jamais esquecerei em solo chileno

No segundo dia de Santiago, no Chile, comentei com a minha amiga Carol que queria ir ao Centro Cultural Palácio La Moneda, onde ficavam as obras de Violeta Parra, tudo! Era uma homenagem a artista que tanto levou o nome do Chile para o mundo. Carol, diz que precisa comprar algumas coisas, mas que depois me encontraria lá, fui bem faceira, não estava acreditando que iria ver de perto as obras dessa artista que tanto me encanta. Chego ao Centro Cultural, meu coração dispara, vou até a recepcionista para que ela me diga em qual andar ficava a sala. Pergunto e ela me diz: “Lamento, mas está fechado!” Levo um susto: Como fechado! Ela explica que estão construindo um museu só para ela e todas as suas obras estão indo para lá. Eu tinha lido sobre o museu, mas como faltava um mês e meio para abrir, não imaginava que suas obras já estariam lá. Apenas pergunto se posso ver a sala, mesmo fechada. Ela me indica o lugar e eu vou com os olhos cheios de lágrimas e muito chateada. Quando vi a placa Sala de Exposição Violeta Parra e na fachada seu nome escrito com violetas, não me aguentei sentei no chão e chorei muito em frente à sala fechada. Não conseguia acreditar que estava lá e não poderia ver de perto. Pessoas passavam, me olhavam sentada chorando, não entendiam nada, reparo que um senhor passou por mim duas vezes, na terceira ele pergunta por que eu estava chorando, eu conto a história e ele diz para acompanhá-lo, já imaginei que era para me colocar pra fora do museu, já que estava pagando um mico danado lá chorando, começamos a entrar em uma sala que dizia: apenas com autorização, algo assim, começo a me assustar, mas o acompanho, o museu fica no subsolo do Palácio La Moneda, sede presidencial chilena, um lugar incrível e bem planejado. Este senhor me levou ainda mais para o subsolo, estava com medo de não saber voltar, até que enfim ele abre uma porta e vejo muitas mesas com computadores e pessoas trabalhando, era a área da administração do museu, ele pede para eu entrar, e fala em alto e bom som minha história em segundos, e pede para que as pessoas procurem por obras da Violeta para mim. Eu realmente não estava acreditando e pisciana como sou, comecei a chorar ainda mais, pois porque raios! Esse senhor quis me ajudar?! Não perguntei, mas sabia que era porque a Violeta significava muito para eles. Infelizmente a busca não resultou em nada, realmente as obras já estavam no novo museu e como ele estava em obras, não conseguiria ver também. O senhor lamenta muito, mas lhe agradeço mais ainda. Volto para frente da sala da artista, e espero a Carol que iria me encontrar. Não conseguia parar de chorar, agora era um misto de emoção com tristeza. Carol chega e apavorada me pergunta o que houve, lhe conto os detalhes que também a deixa emocionada. Ela sugere: porque então não vamos para frente do novo museu? Só para olhar? Sei que tem um formato de violão, deve ser lindo! Acato a sua ideia faceira e vamos.

Pega um metro aqui, outro ali, perguntamos na rua e lá estava ele. Escondido atrás de um tapume. Um pequeno buraco fazia com que enxergássemos como posso dizer, a curva do violão. Eu já estava conformada. Já era. Carol percebe que tem um hotel colado ao museu que está sendo construido, entramos e na cara dura perguntamos ao recepcionista se teria algum lugar do hotel em que poderíamos ver de cima o novo museu, lhe contamos o drama dos minutos atrás e ele nos olha, muito sério e diz: “meu turno acaba as 19h voltem e eu levo vocês no terraço.” Mais uma vez eu não conseguia acreditar no que ouvia, era 18h30, saímos para conhecer o bairro, fotografei algumas mulheres e às 19h estávamos lá. Não me recordo o nome do rapaz, mas ele estava nos esperando na porta do hotel, com um molho de chaves. Então, pegamos o elevador e fomos até o terraço, eu estava um pouco nervosa, Carol também, afinal estávamos nos arriscando muito, mas confiamos e bom, já estávamos lá. Chegamos em uma sala, muito grande, vazia, ele abre uma portinha, um pequeno terraço, coloca um banco próximo ao parapeito e diz: pronto. Pode olhar! Subo no banco e olho para baixo, e lá estava o museu em formato de violão da Violeta Parra, pode parecer bobagem já que não entrei, não sei como é por dentro, e ainda estava mal acabado. Eu estava transbordando felicidade, eu já não estava mais triste por não ter visto as obras da artista, eu estava com um misto de emoções, porque essas pessoas me ajudaram? Porque tiraram minutos do seu tempo para ajudar uma desconhecida? Não sei. Mas aprendi com elas, a empatia sobrepõe qualquer medo ou situação. Ficamos ali no terraço por alguns minutos, falando sobre a cultura chilena, olho pra frente e quem nos cuida são os Andes, comento: parece que estão sempre nos cuidando, e estão, diz o rapaz. Sempre.

Por Gabi

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