Quantas vezes você não se flagrou segurando o choro por medo ou vergonha? Quantas de nós já não usaram o banheiro feminino do trabalho como refúgio para finalmente se permitir soltar aquelas lágrimas insistentes e “inconvenientes”?
Você já parou para pensar em quantas vezes se recusou a chorar, porque internamente associou esse ato a uma demonstração de fraqueza, sensibilidade ou fragilidade? Mas de onde surgiu essa ideia de que o choro é uma demonstração de fraqueza? Por que precisamos estar imersos num estado de fortaleza permanente e irrefutável?
Pessoalmente falando, minha relação com o choro e, consequentemente, meus sentimentos, isto é, a demonstração deles, sempre foi um tabu, um assunto nunca abordado por mim. Culturalmente falando, é fácil perceber esse traço na personalidade de quase todas as mulheres negras, que historicamente foram/são marginalizadas, sexualizadas e subalternizadas pela sociedade.
Djamila Ribeiro aborda a questão da solidão da mulher negra e a consequência desse abandono social, econômico afetivo nos livros “O que é lugar de fala “e “Quem tem medo do feminismo Negro”, expondo que por anos o nosso lugar de fala, isto é, a nossa voz, sequer era cogitado ou existia. Ainda hoje, em pleno ano 2019, ela é negada e sempre condicionada. Como resultado, adotamos essa casca grossa e impermeável. Mas será que é justo viver reclusa dentro dessa armadura?
Brava, invocada, carrancuda, arrogante, fechada, marrenta! Esses são alguns dos adjetivos usados para nos classificar. Porém, o que ninguém sabe é que dá um trabalho absurdo ser firme o tempo todo, como minha mãe dizia: “é difícil ser forte o tempo todo”. Talvez por esse motivo, as mulheres negras carregam em si um conceito totalmente injusto de que precisam ser mil vezes mais determinadas e firmes para serem levadas a sério. Toda a menina negra já ouviu da mãe, avó ou tia que precisa se dedicar mil vezes mais, que precisa ser mais forte, ser mais firme. Talvez esse seja o norte para toda essa carga emocional por trás da imagem que refletimos.
Nesse sentido, por muito tempo falar sobre minhas emoções era algo impensável. Chorar então, totalmente fora de cogitação. Eu evitava com cada fibra do meu corpo chorar, principalmente em público, porque relacionava o choro ao fracasso. Ser vulnerável era algo completamente abominável para mim, criada para ser forte, corajosa e destemida. “Chore pra dentro como uma vencedora”, era o que eu ouvia! Mas será que vencedoras não choram? Será que realmente está errado demonstrar nossas emoções? Com toda certeza, hoje entendo que não há problema algum, nós é que construímos essa associação.
Tenho absoluta certeza de que as minhas avós, tias e minha mãe somente repetiram algo que também lhes foi ensinado quando crianças. Penso, muitas vezes, que para elas a vida tenha sido muito mais difícil do que a minha, portanto, adotar uma postura dura tenha sido uma forma de sobreviver. Diante disso me sinto privilegiada de fazer parte de uma geração de mulheres que tem a LIBERDADE de poder ser visceral, sensível, vulnerável. Por outro lado, sinto tanto por todas as lágrimas que elas tiveram que segurar, afinal não podiam tirar a armadura jamais.
Hoje, com alguns anos a mais, um pouco mais madura de quem eu sou, tenho exercitado esse lado que nunca foi pensado ou alcançado por mim. Muito provavelmente, há alguns anos atrás, jamais estaria escrevendo sobre algo que sempre foi visto por mim como ruim, negativo, depreciativo. Porém, diante das surpresas que a vida nos prega, comecei a repensar quem eu era, quem eu sou e quem eu quero ser… Esse mergulho interno está sendo essencial nesse processo de redescoberta e, consequentemente, de cura! Entender esse aspecto tem sido transformador para mim.
Então, como tenho dito a mim mesma, lhes digo para chorar! Desaguar! Desabar! Dá medo, eu sei, mas faça esse exercício em prol de si mesma. Não reprima suas emoções, não tema suas lágrimas, que são a conexão com sua essência e espírito. Suas lágrimas funcionam como um termômetro orgânico de como você está. Então será que as reprimir, mesmo quando você as sente ali, batendo na janela dos olhos, é um sinal de cuidado e carinho com você mesma?
Permita-se ouvir o que suas lagrimas tem a lhe dizer. Por mais louco que pareça, elas falam com você o tempo todo, basta estar aberta a ouvir. Por muito tempo ignorei veementemente as minhas, que tentaram de forma incansável me mostrar que, ao contrário do que ouvi durante toda a vida, esse coração que bate aqui dentro não é de gelo. Ao contrário, é grande e quente como uma fornalha. As vezes a gente acaba acreditando em coisas que nos são ditas por tanto tempo, que esquece de ouvir a voz mais importante de todas: A nossa própria voz!
Depois de tanto tempo ignorando toda e qualquer emoção, por mais inacreditável que possa parecer, começar a ouvir a minha voz interior e a perceber os sinais que sempre estiveram ali, é algo transgressor e transcendental.
Então, nesse sentido, lhes digo para ouvirem suas emoções, sentirem suas lágrimas e o que elas estão comunicando. Nunca mais reprima suas lágrimas, elas podem te curar! Já ouviu aquela máxima de que o choro é livre? Então garota, ele não só é livre, como necessário. Solte o choro! Chore muito. Chore bem alto e forte! Chore todas as vezes que sentir necessário. Chore quando estiver triste, com raiva ou feliz. Chore muito, livre do medo de estar falhando. Definitivamente você não é uma fracassada por sentir e externar suas emoções!
Se os nossos olhos são as janelas da alma, nada mais natural do que os limpar vez por outra, certo?
Meu conselho? Nunca mais fuja das suas lágrimas, nunca mais as iniba ou classifique, apenas sinta! Será que não podemos ser fortes e, ao mesmo tempo, sensíveis, vulneráveis? Eu aprendi que sim, que existe muita, mas muita força em ouvir nossas emoções.
Amanda Alves Dias Rodrigues
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