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O barba azul


Seguindo na seqüência de textos dos insights sobre o livro Mulheres que Correm com Lobos da Clarissa Pinkola Estés, este será sobre o segundo capítulo que se chama “A Tocaia ao intruso – O princípio da iniciação” e fala sobre o arquétipo do Barba Azul. Contém spoiler.

Esse capítulo é de principal interesse para toda mulher que já sofreu alguma violência abusiva de qualquer tipo - de familiar, de amigo, de namorado, de chefe, ou ainda, muito comum, de si mesma. Ele trata desse intruso que se mete na nossa vida de maneira invasiva e rouba nossa energia.

Muito resumidamente, o Barba Azul é um sedutor de mulheres inocentes que ainda não sabem ao certo intuir situações ameaçadoras. Barba Azul depois de encantá-las, se casa com elas e as mata quando percebe que são “curiosas demais” ou “livres demais”. Ele promete uma falsa liberdade, quando na realidade, não permite que elas conheçam sua verdadeira face (nem a delas e nem a dele).

Ele representa o que é obscuro, tanto na nossa psique, quanto na sociedade. Ele é o alerta de que, se não estamos atentas, algo ou alguém pode roubar a nossa energia até que não tenhamos mais a certeza de quem nós somos e fiquemos, ainda que respirando, completamente mortas.

Felizmente, pelo menos no conto, essa história não termina mal. A curiosidade, a criatividade e a intuição são a chave para sair dessa situação: com ajuda das suas irmãs mais experientes a moça jovem e recém casada com o esse ser abominável vai atrás da sua desconfiança e encontra os cadáveres das esposas anteriores. Apesar de lá no fundo ela já saber quem ele era, havia ignorado os sinais, pensando que “a sua barba não era tão azul assim”.

Quando o marido retorna a sua casa, percebe que ela havia descoberto seu segredo e planeja mais um assassinato. A moça com medo da morte, distrai o Barba Azul dizendo que ele pode matá-la, mas antes pede para despedir-se das suas irmãs. Com ajuda das irmãs e dos irmãos (que também tem grande importância simbólica no conto), ela consegue vencê-lo.

Quem não passou por uma situação assim, que ignorou seus instintos e se deu mal ou está enganada, ou ainda passará por essa iniciação. O Barba Azul (seja lá quem ele for na sua vida) foi ou é necessário para te despertar. Ele vem ajudar a criar consciência de que “nem tudo que reluz é ouro” e que no mundo externo e interno de cada pessoa existem forças destrutivas.

O fato de negligenciarmos ou de minimizarmos o poder destrutivo da nossa mente ou do ambiente externo nos torna suscetíveis e vulneráveis. Saber que ele existe nos dá a inteligência necessária para pedir ajuda e enfrentá-lo. Se você acha que está em um relacionamento abusivo ou se você é abusiva consigo mesma se exigindo demais ou se está em um grupo que não tem nada a ver com a sua essência, faça as perguntas certas, seja curiosa, elas são a porta e a chave pra você sair daí. Use a criatividade.

(A leitura desse pequeno texto não exclui a intensa, iniciática e deliciosa leitura do livro).


Juliana Wesendonk Soeiro

CRP 07|26220

Contato: 51. 989264

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