top of page

Não é da morte que você deveria ter medo


Tenho tanto para dizer e contar. Mas não consegui. Faz alguns meses que não escrevo, a não ser que seja para o trabalho. Para meu prazer pessoal, tentei. Segurei a caneta, sentei em frente ao meu diário, mas não saiu.


Sentei na frente do computador. Cheguei a posicionar os dedos em cima das teclas. Apertei no “C” e, logo em seguida, apertei a “Backspace”. Os motivos do meu bloqueio? A gente sempre coloca a culpa no tempo. Ou melhor, a falta de tempo. É assim que resumo minha falta para escrever, mandar mensagens aos familiares, ou até responder as próprias mensagens dos meus amigos. A desculpa? Ixi... São tantas. Filho. Casa. Trabalho. Exercícios. Estudo. CAMA.


Minha vida passou por grandes transformações. Assim, como a sua. Aposto. E, sério. Nem estou querendo abordar a pandemia aqui. Estou cansada e você também. Sinceramente, isso já está implícito. Eu passaria horas escrevendo sobre a pandemia. Aposto que você também. Mas não dá. Tenho vontade de correr, sem parar, para algum lugar. Um lugar, tipo aqueles que ficam no fim do arco-íris, coloridos e com animais falantes. Nesse “lugar”, não existe pandemia.


Me mudei para Florianópolis em meio à pandemia. Não aguentava mais olhar para a janela e ver concreto da Rua Luiz Afonso, na Cidade Baixa, em Porto Alegre. Rua pavimentada. Ruas vazias. Eu e meu filho passamos seis meses trancados em casa, ano passado. Às vezes, passávamos horas olhando pela janela. Vendo alguns carros passarem. Passarinhos voarem. Fiz amizade com as duas vizinhas da casa da frente do meu prédio. E até briguei com as professoras da escolinha da frente do meu prédio, que acharam que eu estava “espionando elas”. Oi?


Tinha muito medo de sair para rua. Meu filho tem crescido durante a pandemia. Quando ela começou, ele tinha oito meses. Tinha, recém, começado a caminhar. Agora ele está com um ano e oito meses. Loucura, né? Eu não saía nem para descer o lixo. Minha janela dava para rua e eu via passar o caminhão de lixo. Joguei uma vez a sacola da minha janela. Eu morava no segundo andar. Sinto vergonha de contar isso, mas, com licença, sinto empatia por mim mesma. Tinha muito medo. O pai do meu filho vinha trazer o supermercado e já descia o lixo para mim.


Daí, passaram seis meses. Surgiu a oportunidade de um trabalho em Florianópolis. Me mandei para cá. Escolhi um apartamento perto de um parque, a praia mais próxima fica a 20 minutos daqui. Mas a pandemia não deixou eu ainda aproveitar a cidade. Tudo bem. Terá muito tempo.

Nesse meio tempo, peguei Covid-19. Fiquei ruim para caramba. Mas, deu tudo certo. Me senti vitoriosa. Eu sentia medo todos os dias. Faz seis meses que peguei. Meu olfato ainda não se recuperou completamente, nem meu paladar.


Enfim, o nascimento do meu filho me fez começar a querer realizar todos os meus objetivos. Sempre tive vontade de me mudar para Floripa. A pandemia só reforçou esse desejo. Afinal, o verdadeiro medo que sentimos nisso tudo é o de morrer. Morrer e não viver. Não viver tudo o que queremos viver. Já parou para pensar sobre isso?


Mas aqui é uma cidade normal, tá? Tem muito trânsito, não moro na beira da praia, como muitos pensam. Preciso pegar dois ônibus para trabalhar. Ah, não tem saneamento. Mas, em compensação, é uma cidade linda. Tirando quem não gosta de gaúcho, é um povo muito simpático. Os serviços municipais são muito bons e escolhi uma zona segura. Tem muita área verde. Barulho do mar. Pego minha bicicleta, coloco meu filho na cadeirinha e damos uma volta pela beira-mar.


E os seus sonhos? Eu gostaria de saber suas histórias também. Na verdade, ando pensando muito em trocar correspondências. Chega de WhatsApp. Quero tempo para sentir tudo isso que estamos vivendo e sentindo. Aplicativos não permitem isso.


Espero que você esteja bem. Força aí. Nós nos falaremos novamente.


Ah, vi uma frase no Insta, muito boa:

“Não é da morte que você deveria ter medo. Mas sim, de morrer sem ter feito o que fazia sentido para você.” - @thaisheringer


Um beijo e muita força aí.


Caroline Tatsch.

Comments


bottom of page