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Não temos o controle de nada, muito menos da temperatura. Ainda bem!

É, parece que as coisas nem sempre acontecem conforme o planejado. Faltam poucos km para chegar a Santiago de Compostela, meu corpo está exausto, mas ansioso, quero que este momento chegue, porém reluto, pois, na verdade o melhor dessa viagem pode ter certeza que não é a chegada, mesmo que seu objetivo seja esse, a tão esperada cidade de Santiago. Acho que meu corpo não está querendo chegar, ainda está se recuperando fisicamente dessa trajetória tão importante que foram esses trinta dias de muita imersão, autoconhecimento e calorias! Põe calorias nisso.

Acordo em Palas Del Rei, tomo meu café da manhã reforçado, pães, cereais, coloco frutas na mochila, estou sozinha na cozinha, está tudo muito silencioso, fazem dois dias que não falo quase nada, apenas no mercadinho, quanto custava uma garrafa de vinho que estava sem preço. O silêncio é interrompido pelo barulho da chuva, e penso que essa chegada a Santiago será dramática. Bem que podia ter um solzinho!

Arrumo minhas coisas e me preparo para sair, a chuva aperta e vira neve. Fico um pouco nervosa e apreensiva, minhas experiências com neve não foram as melhores, nunca tinha visto neve na vida e nosso primeiro encontro resultou em uma queda (que machucou feio o meu joelho) e cenas dignas do filme O Retorno. Assustador! Por isso paro na porta e penso no que fazer seguir? Ficar mais uma noite nessa cidadezinha meio deserta? Ou pegar um ônibus até a próxima cidade, Arzua?

Descubro que tem uma parada de ônibus ali perto do hostel que leva até a próxima cidade, uma antes de chegar a Santiago. Decisão tomada, vou até a parada esperar o ônibus, após minutos de reflexão sobre se eu seria menos peregrina por ir de ônibus, decido que não, o peregrino não precisa ser caminhante, usar mochila, botas, ter um cajado.  O peregrino é aquele que escolhe se autoconhecer não importa como, adarilhando a cavalo, a pé, como for. A jornada de cada um é pessoal e intransferível.

Quando chego à parada percebo que a maioria dos peregrinos toma a mesma decisão que eu comecei a rir da neve que nos impediria de caminhar, e de que um bom chocolate quente com churros (sim você não leu errado) cairia bem naquele momento enquanto o ônibus não chegava.

Gente do mundo todo, peregrinos mais novos e mais velhos, todos juntos em uma micro cafeteria da cidade, comendo, bebendo e eu que não falava não parei de tagarelar em inglês, espanhol, arrisquei até um italiano…

Faltam poucos dias para acabar, mas essa caminhada não cansa de me surpreender. 

Por Gabi

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