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Não sei quanto tempo ainda tenho, mas hoje já é menos que ontem

Abri os jornais e, na capa, uma manchete sobre a atriz Cristiane Machado, que sofreu violência doméstica do marido. Na internet, foram publicados vídeos com as imagens das agressões. Você apertou o play? Eu apertei e assisti.

Fiquei simplesmente sem ar. Eu conheço isso. Eu sei o que é isso. Eu já senti na pele isso. Como me dói ver que muitas outras mulheres passam ou passaram por isso. São elas amigas, familiares, conhecidas, desconhecidas.

A atriz Cristiane conseguiu sair do seu relacionamento abusivo. Mas o que chama atenção é o que ela escutou de uma repórter durante uma entrevista: “Você já sofria agressões dele na época em que namoravam e casou com ele mesmo assim? ”. Esse tipo de pensamento não é acolhedor. É errado. Gera a impressão de que a culpa é minha ou tua, mulher, por ser agredida.

Recebo relatos diários de amigas contando de agressões de seus ficantes, namorados, maridos… Nem sempre físicas, mas psicológicas. Ciúmes, posse, grosserias, desvalorização. E, muitas delas, não sabem ou também não querem ainda olhar para o ciclo de violência em que estão. Pois é difícil desatar nós. A violência psicológica é uma cobra que dá o bote. Violência doméstica não tem cara. Não tem cor. Não tem classe.

Venho de uma luta há mais de dois anos. Dois anos e meio na verdade. No início, para meu relacionamento fluir. Daí me perdi de mim mesma. E precisei sair do poço para emergir.

A luta de hoje, quando meu maior medo tem sido de me perder de mim mesma novamente. Perder a Carol. Hoje eu vejo o quanto eu gosto muito dela. E eu a maltratei. Não cuidei dela como ela merecia. E não quero repetir os mesmos erros. Não quero que a Carol se sinta mal. Não quero que falem de forma grosseira com ela. Ela é uma pessoa boa.

Ela não quer apenas uma vida vazia. Sem sentido. Sem essência. Viver por viver. Viver por medo. Tolerando qualquer coisa. Aguentando qualquer coisa. Se deixar apagar, entristecer, deprimir.

Eu quero continuar brilhando. Viver o mundo, viver as pessoas. De forma livre. Nosso tempo na Terra tem fim. E não sei quanto tempo ainda tenho. Mas hoje já é menos que ontem. E o que de fato eu estou fazendo por mim? Pelo mundo?

Viver exige força e coragem. Você está cuidando de si mesma? Você faria a uma outra pessoa o que está fazendo a si mesma?

Caroline Tatsch

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