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mulher negra, mãe e cria da favela da maré

No dia 14/03/2018, por volta das 21:30h, como muitos tomaram conhecimento, a vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram mortos no Rio de Janeiro – RJ com tiros disparados de um carro que os seguiu. O caso ainda está em investigação e a polícia trabalha com a hipótese de execução. Marielle tinha 38 anos, se apresentava como “mulher negra, mãe e cria da favela da Maré” e foi a quinta candidata mais votada na eleições de 2016. O triste ocorrido causou indignação e tristeza em toda uma sociedade e abriu mais os olhos para a situação política brasileira e a violência contra mulheres em âmbito nacional, o que me fez pensar também um pouco mais sobre o cenário de uma cidade paraense e como vivem as mulheres aqui. Em oito meses vivendo no lugar, as impressões não são animadoras, visto que discursos de teor machista e casos de violência terminada em morte somente aumentam.

Ainda é comum por aqui ouvir falas de que o papel da mulher é somente cuidar da casa, colocar a mesa e servir o marido. E o que dizer dos constantes olhares direcionados a mulheres que estão caminhando pela calçada? Diria que já faz parte do comportamento aprendido, tal como conversar ou conhecer alguém. Sim, é comum, faz parte da rotina diária, é cultural para alguns habitantes, mas isso não quer dizer que seja aceitável. Em pesquisa rápida no Google, as notícias sobre o tema desanimam. Em 2017, foi divulgada pesquisa pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que aponta a cidade como a pior de todo o Brasil para as mulheres, considerando os índices de longevidade, educação e renda. A notícia ampliou o debate das mulheres que lutam pelos seus direitos no município e em todo o Pará, mas ainda não é o bastante. Os casos de mortes de mulheres por violência estão presentes nos jornais diariamente, o que evidencia um cenário no qual os principais atores representam uma peça de terror sem final feliz, já que a vítima nunca se salva.

Parece familiar e não tem nenhuma novidade, certo? Certo. E é esse o ponto. Em anos de luta feminina, essa situação se repete em muitos cantos brasileiros e têm finais trágicos. Mulheres que pensam, falam, lutam, discutem são ainda vistas como ameaças a uma estrutura social que não permite intromissões ou desequilíbrios. Entre duas regiões brasileiras fatalmente ligadas por Marielle e Dorothy Stang, temos um caminho de cenários que se repetem e cabe a nós prosseguir e repetir a luta de cada uma, com intuito de transformar um pouquinho mais essa peça de terror que nos acompanha a cada dia e é motivo de aplauso para alguns.

FONTES: Diário Online

Correio de Carajás

Renata Cortinhas – Psicóloga com especialização em Psicologia médica

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