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Missão amor



Seu sonho sempre foi ser veterinária.

Desde que se entendia por gente, o amor pelos seres de patas foi o principal motivo para a decisão mais importante de sua vida. Era mais do que uma decisão profissional. Entendia que seria sua missão.

Desejava salvar vidas e amenizar o sofrimento das criaturinhas de patas.

Acreditava que podia mudar o mundo e também as pessoas ao seu redor.

A esperança sempre foi o sentimento primordial que alimentava a sua vontade maior.

Durante os primeiros anos acadêmicos logo percebeu que nem todos que trabalhavam com animais os amavam e os tratavam com respeito.

Presenciou por muitas vezes animais servirem de experiência para estudos e depois serem descartados sem nenhum respeito. Viu animais saudáveis serem eutanasiados.

Aquilo corroía seu coração, mas mesmo assim, decidiu seguir seu maior sonho.

O tempo livre que tinha na Universidade, ela fazia estágios no hospital veterinário e também fazia questão de ficar no canil do hospital escola levando carinho para aqueles animais que aguardavam a sua chance de serem adotados. Mas na verdade a maioria dos destinos eram outros bem mais duros e tristes. Ali ela teve o primeiro choque de realidade, em consequência da superpopulação, descaso e abandono de animais.

Logo que concluiu o curso, resolveu prestar concurso público, porque imaginava que trabalhando em uma prefeitura poderia colocar em prática seu objetivo de ajudar muitos animais.

Prestou concurso e passou em 1°lugar.

Repleta de seu combustível principal, a esperança, assumiu o cargo de veterinária em uma prefeitura.

Estava feliz e com muitos objetivos a fim de dar melhoria às condições dos animais em situação de vulnerabilidade.

Entretanto logo de início percebeu que quem mais ela precisava para se aliar e unir forças (o prefeito, a secretária de

saúde e o de agricultura do local) não tinham nenhum interesse na situação dos animais abandonados.

Certa vez ouviu absurdos do prefeito, como, por exemplo, que o controle de natalidade era realizado através de venenos. Que ele não gastaria tempo e dinheiro investindo em vira-latas.

Ela gritou, brigou, esbravejou e percebeu que sua força era muito menor. Que por mais que lutasse, não conseguiria avançar em seus planos e metas.

Aquela moça sonhadora, decidida e apaixonada por animais, que estava disposta a lutar por eles, foi gradativamente perdendo sua luz e se sentiu derrotada. Viu como única saída pedir exoneração de seu cargo.

Retornou a sua cidade e logo teve a oportunidade de trabalhar em um canil público. Foi ali que

ela teve suas melhores e piores experiências.

 Convivia diariamente com as maiores atrocidades que o ser humano é capaz de praticar com os animais.



Por várias vezes chorava escondida e se sentia uma derrotada.

Muitas vezes, haviam casos onde os animais suplicavam em olhares que queriam ir embora desse mundo tão injusto e duro. E ela, teimosa e cheia de amor por eles, mesmo sem recursos, lutava por cada vida que chegava até suas mãos. Ela tinha plena consciência de que não era nenhuma heroína, mas até mesmo usando todos os seus conhecimentos e ouvindo opiniões de muitos colegas, nos casos mais impossíveis, ela recorria a Deus. E ela sabia o poder Dele.

Quantas vezes Ele a ouviu. Só Deus sabia o quanto aquele coração era grande e o quanto de sofrimento suportava.

A realidade era dura. E mesmo que ela amasse os animais e a sua profissão, não aguentou conviver diariamente com o sofrimento deles.

Ela pensou diversas vezes em desistir da profissão e se afastar dos animais.

Refletiu muitas vezes em desistir de si mesma, pois só dessa forma ela se libertaria de tanta dor.

Ela se coloca no lugar de cada vidinha sofrida e tem plena consciência de que não é tão forte quanto os animais que enfrentam todos os tipos de dor, como a física, a do abandono e a da alma.

Mas aí ela lembra que a vida é só uma e não há sentido nesse mundo se não for para fazermos sempre o nosso melhor, mesmo que esse melhor não seja suficiente para mudar o mundo e as pessoas ao seu redor.

E aos poucos vai colorindo o mundinho preto e branco dos inocentes animais.

Na verdade, ela é que vai colorindo o seu mundo, através dessas doces criaturas, mesmo que seja pela dor.

Só agora ela consegue perceber que são os animais é que a salvam todos os dias.

E aquela força que ela sempre suplica a Deus está em cada olhar de agradecimento dos animais.

Depois de tantos tropeços e percalços, ela vai tentando viver um dia de cada vez.

Marilda

MO Bilhalva

Médica Veterinária

Voluntária na Proteção Animal

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