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Mestrado na França: veja dicas de uma brasileira para quem quer estudar por lá

Mestrado na França é o sonho de muitos brasileiros. A jornalista Lara Mizoguchi, de Porto Alegre, conseguiu realizar esse sonho e fez tudo com pouquíssimo tempo de planejamento. O ideal sempre é fazer tudo com, pelo menos, uns seis meses de antecedência, mas a Lara é a prova de que quando você está disposto mesmo, vai dar trabalho e correria, mas tem como fazer acontecer. A Lara está em Bordeaux desde setembro de 2017 e contou para vocês tudo sobre como se organizar e como é fazer mestrado na França. Confere aí:

“Há bastante tempo pensava em fazer um mestrado. Tentei uma vez, na Universidade Federal Fluminense, há alguns anos, sem me preparar muito. Só que, apesar de surpreendentemente ter sido aprovada na prova, rodei no currículo. Não tinha publicações suficientes para entrar em um mestrado. Acabei deixando a ideia de lado. Embora nunca mais tenha me planejado para fazer um mestrado de novo, a ideia nunca saiu da minha cabeça. Junto a isso, continuava com a ideia de voltar a morar fora do Brasil – já tinha passado um ano em Barcelona há dez anos – e queria ter essa experiência de novo.

Há quase quatro anos, conheci meu namorado – um francês de Bordeaux. Ele morava no Rio, assim como eu. O Rio é uma cidade maravilhosa só no discurso. Na realidade, é dura. Consegui me adaptar, mas sabia que a vida ali não seria pra sempre. Muita gente, muito carro, muita coisa acontecendo. Não era o que queríamos. Gui e eu começamos a pensar para onde poderíamos ir. E, claro, cursar um mestrado na França começou a parecer uma ideia (bastante) atrativa.

Como é fazer mestrado na França:

As universidades francesas são públicas, então os estudantes pagam apenas a matrícula, 270 euros por um ano. Após fazer a matrícula e entregar os documentos na universidade, tive a Reunion de Rentrée, o momento em que a coordenadora do curso passa todas as informações. Tenho três matérias obrigatórias e escolhi outras três dentre as opções oferecidas – são quatro eixos de ensino, e cada aluno deve fazer uma matéria de cada eixo, sendo um já abrigado pela disciplina obrigatória. A escolha das disciplinas se chama matrícula pedagógica. Todas as aulas são presenciais, mas, pelo que entendi, tem gente que trabalha e não precisa frequentar, mas não sei exatamente como isso funciona. Como o mestrado é recente – esse é o segundo ano – a turma é pequena. Dos que assistem às aulas, somos pouco mais de 10 alunos.

No início do mestrado deu uma pequena confusão com a data de início. Prevista, inicialmente para a semana de 11 de setembro, na reunião a professora comentou que seria no dia 18. Temos um hyperplanning que mostra as atividades da semana. Algumas cadeiras apareceram na semana do dia 11 e, claro, muita gente foi para a aula e deu com a cara da porta. Ou seja, não é SÓ NO BRASIL…

Na maioria das disciplinas que faço, a avaliação se dá por meio de dossiês com estudos de caso. Temos que escolher um tema e escrever sobre, associando, claro, ao que foi exposto em aula. Outro tipo de avaliação é por meio de prova oral, em que é preciso explicar um tema sorteado na hora para o/a professor/a.

E como é estudar em francês:

Minhas aulas são praticamente todas em Francês, e duas deveriam ser em Inglês – uma delas acabou sendo também em Francês. A língua ainda é uma pequena barreira para mim. Em algumas aulas, consigo entender tudo, em outras, me perco um pouco. O curso acaba sendo um pouco cansativo por isso: se não estou 100% concentrada, acabo não entendendo algo. Mas meus colegas compartilham anotações e me explicam se me perdi em algo. Além disso, estou fazendo aulas de Francês na Universidade – o valor da inscrição, achei curioso, é praticamente o mesmo da matrícula do Mestrado: 260 euros – válido por um semestre.

Acho que os alunos precisam estudar bastante em casa para acompanhar o ritmo do curso. Uma professora comentou que o ideal é calcular o dobro de horas que se tem no mestrado. No meu caso, tenho 12 horas por semana – mas significa que devo me dedicar umas 24 horas semanais ao mestrado.  Por aqui, vários mestrados possuem as mesmas disciplinas. Ou seja, dentre as optativas, temos estudantes de outros cursos. É interessante porque a troca é maior.

Outra diferença é que há muitos professores que lêem nas aulas. Ou eles têm um texto que vão acompanhando ou, em alguns casos, têm os principais pontos anotados. É claro que rola interação entre alunos e professores, mas eles se guiam pelas anotações. Não lembro disso no Brasil e nunca fiz mestrado lá, então pode ser que isso seja viagem minha.

A vida universitária na França:

Aqui eles valorizam muito os esportes. Tem uma quantidade enorme de opções de esportes. A Universidade ainda tem uma piscina que está fechada para manutenção. Uma pena. Mas entre as atividades propostas, tem surf – Bordeaux fica a 40 minutos de uma praia com boas ondas –, kitesurf e snowboard. Essas atividades acontecem durante uma tarde ou, em alguns casos, durante um fim de semana. Para ter direito a participar, o estudante deve pagar 18 euros e tem direito a frequentar quantas atividades esportivas quiser, por um ano. Para atividades que envolvem viagens, é preciso pagar um pouco mais. Mas é pouco. E, quem quiser, pode pagar mais 7 euros e ter direito às atividades culturais, entre elas, a batucada e oficinas de ukelelê. Assim como para o esporte, para quem quer ter apenas as atividades culturais, deve pagar 18 euros.

 A vida no campus é bem agitada. Sempre tem festivais e eventos. Há vários seminários – para terem uma ideia, em três semanas de curso, já não tive aula em dois dias pois indicaram eventos para frequentarmos. Realmente, a vida bordelaise é bem tranquila, mas com várias opções de diversão. Sempre tem festivais acontecendo. As bicicletas estão por todos os lugares – é nosso meio de transporte também à noite, pois o tram vai só até 1h30. Aliás, aqui temos três linhas de tram (é o VLT carioca) e estão construindo a quarta. Além disso, os ônibus, em sua maioria são pontuais e, nos pontos, há a indicação de quanto tempo falta para ele passar. Sei de ao menos uma linha que está saturada e, por isso, sempre atrasada – fila para pessoas subirem gera demora para se deslocar.

A cidade é bem linda (o centro é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO) e foi escolhida o destino de 2017 pelo Lonely Planet. Além disso, fica perto da praia e da montanha. Estar perto da natureza foi um dos principais fatores que nos fez decidir vir morar aqui. Assim não sentiríamos tanta falta de viver a 15 minutos de uma floresta e das cachoeiras cariocas.

Embora já bem habituada à essa nova vida, ainda estou chegando na França. Ter a família do meu namorado e os amigos dele por perto certamente contribuiu para que a adaptação fosse tranquila. Em praticamente todos os eventos (aniversários, festas, almoços), sou a única “não-francesa” – o que faz com que eu experiencie bem a fundo a cultura. E eu estou adorando!”

Fonte: Partiu Intercâmbio | Lara Mizoguchi

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