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Manawee


O quarto capítulo do livro Mulheres que correm com lobos “Manawee” fala sobre dualidade, sobre amor verdadeiro, sobre persistência dos desejos... (pelo menos na interpretação que consigo fazer até esse momento). Ele fala na natureza dual da vida: que existe luz e existe sombra, existem dias bons e dias ruins, existe a noite e existe o dia. Assim também somos nós, duais - com uma das faces mais evidente e outra mais interna, com uma vontade latente e outra mais escondida.

No conto, como representação do arquétipo masculino saudável, Manawee procura conhecer as profundezas da Mulher Selvagem (no conto, representada pelas irmãs gêmeas). Ele procura conhecê-las para ter direito a se relacionar em par de igualdade (Atenção aqui) - NÃO para ter poder sobre elas. Não vou contar muitos detalhes, mas durante o processo de desvendar os segredos, o cachorro de Manawee, quem o ajuda nessa empreitada, é desvirtuado desse caminho pela sedução de um bolo, de ossos, e, por fim, é ainda mais desafiado: tem de lutar com um homem que tenta roubar o conhecimento profundo das irmãs.

Assim é o processo de auto-conhecimento da mulher selvagem: podemos ser distraídas dos nossos anseios de alma por várias razões. Somos tentados pela sedução das redes sociais quando queremos completar um trabalho, temos resistência pra tratar traumas mais antigos e saímos de terapias, mantemos relacionamentos que não nos acrescentam quando nosso eu mais profundo quer outra coisa, etc...

Por vezes, quando estamos buscando essa mulher selvagem, é assim mesmo: temos pouca paciência com nós mesmas e são vários os motivos para desistir. Essas pessoas que temos em nós parecem estar opostas. Parece que somos duas coisas ao mesmo tempo, ou fica difícil atender nossas naturezas simultaneamente. Fazer essa integração e poder entender que esses vários lados e que eles tem direito de estar ali e existir concomitantemente, é poder aceitar quem somos, na totalidade. É ter amor <próprio, de outrem, ou por outro>.

Por isso, é natural termos resistência. Se temos dificuldade de fazer toda essa integração das nossas partes com nós mesmas, imagina se não teríamos com um outro. As pessoas com quem nos relacionamos também têm essas duas partes ao mesmo tempo, também tem seus anseios profundos, seus anseios rasos, suas sombras e suas luzes, tem suas vontades e suas resistências. Amá-lo também requer enfrentar batalhas como fez o cachorro.

Cachorro na nossa cultura tem a ver com lealdade, e pelo que percebo, essa história é também sobre isso. Lealdade com nós mesmas na busca incansável da nossa essência, lealdade com os outros que estão em busca da essência deles, lealdade com um parceiro(a) que quer ser cachorro... Dá muito trabalho, mas a recompensa desse conhecimento sobre si e sobre os outros é entender o poder de ser *dois*, quatro, seis, oito...


Juliana W. Soeiro

CRP 07|26220

51.989264043

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