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Instagram e saúde mental


O espaço do instagram começou como espaço de fotos de férias, de looks do dia, de comida e de “tbt”. Porém, hoje em dia não dá mais pra dizer que algo não é “instagramável” - termo cunhado pra dizer que algo é socialmente e esteticamente aceito para ser publicado.


Hoje de espinha à política, religião e saúde mental, todos são conteúdos “instagramáveis” e bastante buscados. Não é mais só sobre estética. Quando escrevo isso não há julgamento, pois não vivemos sem estética. Ter mais conteúdo além do próprio da foto não é bom nem ruim. É como (quase) tudo na vida: é bom e ruim. Às vezes de grande utilidade, às vezes questionáveis, fato é que a saúde mental precisa ser discutida, logo não pode estar “de fora” deste espaço.


Antes de chegar aonde quero, preciso dizer que não sou a favor de nenhum tipo de censura. No entanto, como profissional de saúde, percebo que alguns conteúdos envolvendo o tema são além de desnecessários, apenas “catch fish” publicitário ou prejudiciais mesmo para quem busca ajuda de verdade.


Então, o que faz um conteúdo ser responsável ou irresponsável no que diz respeito à saúde mental?

Primeiro de tudo, abordar qualquer diagnóstico fazendo generalizações. Meditar ou correr para passar a ansiedade não funciona pra todo mundo; socializar para sair do casulo talvez não seja o momento ideal para a pessoa com depressão; perdoar não é um processo simples para tirar a amargura; ter gratidão não é simples quando se está em luto ou com qualquer outro problema pessoal.


Não considerar aspectos políticos, sociais, econômicos, raciais, de sexo, de gênero, do contexto atual do indivíduo despersonaliza a pessoa e o processo psicológico. Simplificações desse tipo só fazem os indivíduos se sentirem deslocados e culpados diante de outras bem sucedidas “com a saúde mental em dia”.


Ainda estamos em pandemia, saúde mental em dia talvez a gente nem saiba o que é. Além disso, estar com a “saúde mental em dia” não é só começar a terapia. Percebo em muitos discursos aqui uma romantização da terapia, como se todos que estivessem em terapia estivessem bem somente por compartilhar suas angústias com um profissional.


Só quem está de fato em terapia sabe, são mudanças difíceis, profundas, levam tempo. O resultado não é publicável, é dia-a-dia, constante, mutante, bonito e feio. E aqui não é um discurso desmotivador, mas se pra quem tá em terapia já é difícil, pra quem está fora dela então nem se fala.


Juliana Wesendonk Soeiro

Crp 07/26220

Contato: 51. 98926.4043

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