Infância interrompida

Uma menina de apenas 10 anos de idade engravidou após ser estuprada pelo seu tio. O fato causou comoção, mesmo sabendo que é comum crianças serem abusadas por familiares em seus próprios lares. Se não fosse a divisão de opinião sobre a realização ou não do aborto, talvez fosse apenas mais um número nas estatísticas. Apenas isso.

Porém, um grupo de pessoas defendia a ideia de que a criança teria condições físicas e psicológicas de gerar e criar um filho. Entretanto, surgiu defensores de que nesse caso poderia ser feito o aborto, e após a recusa de um médico, teve que ser transferida para outro hospital em outra cidade para enfim realizar o aborto.

Essa pequena menina de apenas dez anos estava assustada, agarrada em seu urso de pelúcia, desejando entender o porquê desde os 6 anos seu tio a abusava e a ameaçava caso contasse para alguém. De forma precoce, penetrou numa realidade doentia, acreditando que essa realidade seria seu dia a dia, não sabia que teria que antes viver sua infância, fantasiar com suas bonecas um futuro promissor, receber dos familiares aconchego e proteção. Tudo foi diferente, não foi possível ser criança, pois sua infância foi interrompida.

Preciso deixar registrada minha indignação com tal fato, mas também me solidarizar com essa família, que vai precisar de muito apoio e estrutura para mostrar a essa pequena que vale a pena viver, pois nem toda pessoa que se aproximar vai tentar machucá-la. Que a vida sorria para ela, que as pessoas a sua volta transmitam a paz de que ela necessita e que a auxiliem na condução de sua vida.

Rosane Machado Mestranda em Estudo sobre as Mulheres, Gênero e Cidadania pela UAB de Lisboa