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Hillary Clinton versus o “Bilionário do povo”

Hillary Rodham Clinton, filha de um Conservador Republicano, seguiu os caminhos do pai, chegando até a fazer campanha de apoio ao Republicano Barry Goldwater candidato a presidência dos EUA, em 1964. Mas ao ingressar no Wellesley College para cursar Ciências Políticas, começou a mudar radicalmente, até tornar-se democrata. O ponto alto para sua mudança, foi o discurso de Martin Luther King sobre Justiça Social, que a seduziu definitivamente. Foi a aluna escolhida para fazer o primeiro discurso feito por uma mulher na sua turma no Wellesley College: “Sentimos que por muito tempo, nossos líderes, tem visto a política como a arte do possível. E o desafio a partir de agora, é praticar a política, como a arte de tornar possível o que parece ser impossível. Chegamos sem saber o que não era possível. Por isso, nós esperávamos muito. Todos descobrimos que havia uma lacuna entre as expectativas e a realidade. Mas não era uma lacuna capaz de nos transformar em mulheres cínicas, amargas, e velhas aos 18 anos de idade. Isso nos inspirou a fazer alguma coisa para superar esta lacuna.” Hillary foi aplaudia por 7 minutos, mas não surpreendeu sua mãe, que afirmava, que Hillary, “já havia nascido adulta”. Em 1969, iniciou os estudos de Direito na Universidade Yale, onde conheceu Bill Clinton. Apaixonaram-se e há quem diga que Hillary, realmente abdicou de seguir uma carreira brilhante de Direito, para seguir o marido rumo ao Arkansas onde ele viria a ser Governador. No Arkansas antes mesmo de se tornar Primeira Dama, se envolveu profundamente na causa das crianças, especialmente por já ter participado do Fundo de Defesa das Crianças anteriormente. Como Primeira dama do estado do Arkansas, conduziu a reforma educacional do Estado, com sucesso.

Em 1993, ao se tornar a Primeira Dama dos EUA, continua a ser uma coadjuvante extremamente participativa, e liderou as tentativas infrutíferas de realizar uma reforma do sistema de saúde dos Estados Unidos. No segundo mandado do marido, que iniciou-se em 1997, Hillary passaria por um verdadeiro purgatório, Bill Clinton foi acusado de assédio, por Mônica Lewinski. Mais tarde, o então presidente, às vésperas de passar por um processo de Impeachment, assumiria que realmente manteve uma “relação imprópria” com a estagiária da casa branca.

Ela passou por isso, e sobre isso. Cuidou de tudo para que Bill Clinton não fosse expulso da Casa Branca, conquistando todos os Democratas a votarem contra o Impeachment. Esfriado o escândalo, agora, era a hora e a vez de Hillary. Quando perguntam à biógrafa Gail Sheehy, porque Hillary teria continuado com Clinton após o duro golpe da traição com Mônica Lewinsky, Gail respondeu: Ela o ama. E Clinton, a ama. Simples assim!

Aos 53 anos, Hillary, finalmente inicia sua própria campanha pelo Senado. Na verdade, ela já estava sendo planejada quando o Impeachment ainda estava em andamento. Foi eleita Senadora de Nova Iorque, por duas vezes. Em 2008, decide se candidatar à presidência, mas foi surpreendida pelo senador Barack Obama, também democrata, e uma jovem força política do Illinois.

Em 2009, como Presidente eleito, Obama convidou Hillary para ser Secretária de Estado do seu Governo; cargo o qual, após certa resistência, Hillary aceitou. Uma das marcas de seu mandato foi a discussão dos direitos das mulheres na política externa americana, bem como os direitos dos grupos LGBT. Atuou fortemente no cessar fogo entre Hamas e Israel. Buscou reiniciar uma relação com a Rússia, embora tenha sido inexitosa. Por outro lado, o Acordo Nuclear com o Irã protagonizado por ela, foi um sucesso.

Nem tudo foram flores, Hillary errou, e errou feio a afirmar reiteradamente que não havia utilizado seu e-mail pessoal para tratar de assuntos oficiais. Quando definitivamente decidiu assumir o erro, arrependeu-se profundamente, pois percebeu que seus eleitores esperavam isso dela, desde sempre, e que apesar de tudo, o erro de usar o e-mail pessoal, não havia sido tão importante, quanto o de não tê-lo assumido anteriormente. Este viria a ser um dos pontos mais congruentes que Trump usaria durante a dura campanha que travariam na corrida rumo à Casa Branca.

Este é um pequeno apanhado do que foi a vida pública de Hillary até aqui, informações colhidas de sua biografia, e de outras boas fontes. Fica evidente que não se trata de uma heroína, mas de uma mulher de muita fibra e determinação, que talvez, como muitas de nós não lida muito bem com a possibilidade de errar.

Mas qual seria a história de Trump, como poderia superar Hillary e tudo que deu aos Estados Unidos? Buscamos entender como esse homem e sua história conseguiram tamanha proeza.

Ele nasceu numa família abastada, é a continuação de uma saga familiar de três gerações. Seu avô, chegou da Alemanha aos 16 anos, no auge da corrida do ouro nos Estados Unidos na virada do século XX, em 1885, aproveitou não para juntar-se àqueles que participavam da corrida, mas para fornecer a eles os equipamentos, alimentação, e companhia feminina, com restaurantes que abriu em Seattle e Yukon. Fred Trump, seu pai, dando continuidade à genética do empreendedorismo, dedicou-se ao ramo imobiliário e ficou milionário com os incentivos que o Estado Americano deu para o desenvolvimento de construções populares.

Donald Trump nasceu em berço de ouro, morava numa mansão onde dispunha de vários empregados para servi-lo. Foi uma criança rebelde, e extremamente competitiva. Na escola, praticava bullying tanto com os colegas, quanto com os professores, a ponto de seu pai ter que tirá-lo da escola regular e matriculá-lo numa escola militar.

Trump adorou a nova escola, lá ele pôde dar vasão a toda sua verve competitiva. Na Universidade, nunca foi um aluno excepcional, mas destacava-se como aquele que se interessava em extrair dos professores informações específicas do ramo imobiliário, na mesma medida, detestava História e qualquer outra matéria que não lhe trouxesse qualquer utilidade nos negócios da família.

Já em Manhattan, quando os incentivos do Governo haviam minguado acerca de construções populares, investiu no luxo, e comandou a reforma do Hotel Commodore, um dos principais portais para quem chegava em Nova Iorque, que ficava ao lado da estação Central. O Hotel recebeu uma identidade completamente nova, que refletia luxo e poder; Trump acertou, e replicou a tática em muitos outros prédios decadentes da Cidade. Pouco a pouco, passou a assumir a identidade de figurinha tarimbada de Nova Iorque. Porém, ao lado de muitas boas escolhas de investimento, houve pelo menos quatro grandes falências.

Como assevera Michael D´Antonio, biógrafo de Trump, nos Estados Unidos, “se você é empresário, e sabe que sua empresa vai falir, você pode passar por isso, sem perder efetivamente nada de sua riqueza pessoal, neste caso, fica com o prejuízo quem investiu na sua empresa”; chama atenção o fato de que sair de falências e permanecer com sua riqueza pessoal irretocável, para Trump, é sinônimo de competência empresarial, e esperteza pessoal. D´Antonio destaca também que Trump nunca abriu suas contas pessoais, jamais alguém soube efetivamente o quanto é rico ou não, o quanto é ou não caridoso, e o quanto paga ou não de imposto de renda.

Em 2005, Trump inaugura a Universidade de Negócios Imobiliários batizada de Trump University, que logo em seguida fecha as portas, em meio a acusações de que não tinha as autorizações de funcionamento necessárias.

Casou-se com três modelos diferentes, sempre tomando cuidado para não ser ofuscado por nenhuma delas, elas deveriam estar ao seu lado, apoiando-o e cuidado da prole, mas jamais a sua frente. Iniciou sua pseudo carreira política passando por vários partidos políticos, entre eles, o Partido Democrático, retornando depois ao Partido Republicano, onde aliás, não foi uma escolha unânime para candidato à presidência dos Estados Unidos.

Trump, se candidatou com o discurso demagógico de reconstrução dos Estados Unidos, de expulsão dos imigrantes ilegais, de repúdio à homossexualidade e às questões de gênero, de proteger a família americana, e de proteger a qualquer custo a economia americana, é claro, com atitudes protecionistas de mercado.

Ele é misógino, machista, cínico, sexista, competitivo, e extremamente agressivo, mesmo que não assuma, é como concretamente age.

Faz o gênero papagaio, de repetir frases impactantes quase ad eternum, uma tática dialética infantil, mas que agrada muito ao homem médio branco americano, especialmente, “os americanos, homens brancos pouco educados”, como diz D´Antonio.

O biógrafo afirma ainda que Trump se identifica muito com a raiva que esses homens sentem pela ideia de direitos iguais para todos e de ter uma mulher competindo com eles em seus empregos, ou ainda, de ter um homem de descendência africana e muçulmana como Presidente, essa é a base de apoio dele.

Para alguns Donald Trump encarnou o que uma boa parte dos americanos sente, especialmente os de veia mais agressiva, e narcisista, que acredita que os Estados Unidos da América podem, e devem mesmo dominar o mundo, por serem a nação mais poderosa da terra. É um discurso entanto, poderosamente populista, e soa como música para boa parte dos eleitores que se identificam com o bilionário do povo, como Trump adora ser chamado.

Quando indagado sobre o que impediria Hillary de ser eleita presidente dos EUA, o jornalista especializado em política, James Kirchick, respondeu “a falta de credibilidade de Hillary, a forma como o marido de Hillary se comportou em relação às mulheres durante seu governo como presidente, especialmente acerca do caso Lewinsky, e a forma como Hillary lidou com isso, podem ser as justificativas para a eventual perda das eleições para Trump”.

O certo é que não há como aferir o exato motivo da derrota de Hillary para Trump. E mesmo que haja, e por certo hão de existir, não um, mas talvez vários, o que se pode afirmar com toda a tranquilidade do mundo, é que em algum momento eles passam pelo fato de que Hillary é uma mulher, e que traz na sua luta a marca da busca pela igualdade de gêneros, e o respeito às questões humanitárias.

Se Hillary errou ou acertou ao perdoar o marido e ao lado dele permanecer, quem de nós poderá julgá-la? Sinceramente, isso não deveria estar em questão. O que deveria ser medido, apontado e valorado, é sua postura ética, seu ativismo, sua capacidade, sua trajetória política, e o que conquistou durante esse caminho.

Os americanos já mostraram antes sua postura machista e sexista. Quando poderíamos imaginar que um homem negro, filho de pai muçulmano, pudesse ser eleito no país que experienciou talvez, o maior holocausto racial fora da África? Se perguntássemos isso a um especialista americano na década de 90, com certeza ouviríamos que isso seria completamente impossível. Hillary foi o motor propulsor da vitória de Obama. Os americanos então, preferiram eleger um negro a uma mulher. O mundo demorou a acreditar nisso.

Hillary, desde o início, a despeito daquilo que falam sobre suas escolhas pessoais que quase sempre refletiram na sua imagem pública, ao meu ver, não esteve ao lado do marido, ou de quem quer que seja. Hillary esteve ao lado daquilo que acreditava, Hilary esteve ao seu próprio lado, ou ao lado de si mesma, se assim desejarem; fez aquilo em que acreditava, simplesmente. Se Bill Clinton ganhou com isso ou quem quer que seja, não importa, pois tenha certeza, quem saiu ganhando mesmo, foi ela, que jamais abandonou a si mesma.

Por Singra Macedo

Algumas das Fontes utilizadas:

Livros

1.Escolhas difíceis, Hillary Rodham Clinton

  1. Donald Trump biography – How to survive a bankruptcy and be successfull https://www.youtube.com/watch?v=pVHCWBa2cvQ – Globo News Sem Fronteiras – Hillary Clinton https://www.youtube.com/watch?v=_fg_iPgS0iY – Globo News Sem Fronteiras – Donald Trump

https://exame.abril.com.br/negocios/como-donald-trump-superou-quatro-falencias-e-continuou-rico

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