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Gordofobia

Depois de conversar incessantemente com mulheres sobre este assunto essa semana, escrevo sobre gordofobia – preconceito com obesos. Nessas conversas, ouvi alguns relatos que eu já tinha escutado e outras que me impressionaram bastante.

“Não faço aula de dança porque sinto vergonha do meu corpo”; “não coloco biquíni porque não me sinto a vontade”; “minha mãe disse que não consegue me achar bonita porque sou gorda”; “me disseram que se eu não emagrecer não vou arrumar namorado”; “falaram que meu rosto é lindo, pena que estou acima do peso”; “meu chefe me disse que eu estou assim porque eu quero”; “me trataram super mal na loja de roupa porque nada me servia”, “na época que eu estava mais magra, foi na mesma época que eu estava pior emocionalmente, mas só recebia elogios sobre o meu peso, ninguém queria saber se eu estava bem”, “meu ex-marido disse que se eu emagrecesse, voltaria comigo”…

Faça este teste, converse com uma amiga sua que não está dentro do padrão e pergunte pra ela como ela se sente, como é tratada. O mais triste é que se continuarmos essa pesquisa, cada uma de nós poderia fazer um livro enorme só com frases e histórias como essas. É até difícil escrever sobre isso, porque em alguma escala todas (ou quase) todas nós beiramos a gordofobia. Digo isto porque – na medida em que – não gostamos quando engordamos e consideramos mais bonito um corpo magro, somos sim, gordofóbicas. E é até natural ser porque nossa sociedade desvaloriza as pessoas que não tem um manequim XP, PP, P ou M e ninguém quer ficar à margem.

Tão problemático quanto isso é o fato de que se usa da saúde como desculpa para querer encaixar todo mundo no manequim “36”. Ninguém ousa perguntar pro magro se os exames dele estão bons. Em contrapartida, para a pessoa gorda perguntam quase todos os índices do hemograma. Escrever isso parece muito óbvio, mas vamos lá: estar gordo não é sinônimo de doença, nem estar magro sinônimo de saúde.

Dito tudo isso, é fácil perceber que se dá demasiada importância para o que é estético e pouca importância ao interno. Sendo assim, me pergunto, onde fica em tudo isso a saúde psíquica¿ Várias mulheres fazendo cirurgia plástica, tomando laxantes para emagrecer, vomitando a própria comida para entrar em um vestido, desmaiando de fome pra atingir o peso ideal, tendo depressão ou até cometendo suicídio por zero auto-estima.

Nossa insegurança é prato cheio pra mídia que quer nos vender o ideal de perfeição mas, mesmo sabendo, nós compramos! Não é um processo fácil, estamos todos no mesmo barco: há uma pressão tão grande para se encaixar em um modelo, ou nesse caso em uma roupa P. Só que além de procedimentos caríssimos e dietas sofridas, pode custar um bem muito mais valioso – nossa saúde mental.




Juliana W. Soeiro Psicóloga – CRP 07/26220 (51) 989.864.043

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