top of page

Furtaram meu celular, e agora?

Agora na virada do ano estava viajando. Fui para o Rio, estava na companhia da família, bem feliz com tudo que estava se passando. Eis que no fim da viagem furtaram meu celular. E o que aconteceu comigo a partir desse evento?

Queria dizer que nada, que não me importei, que sou muito evoluída e que pensei em todas as coisas boas que estavam me acontecendo. Não foi bem assim. Aliás, não foi assim mesmo!

Senti um baita balde de água fria. Perdi a calma, por alguns instantes me arrependi de ter saído naquele dia, de ter bebido algumas cervejas, de ter me distraído.

Internamente estava aos berros comigo mesma pelo que aconteceu e ainda me julgando por ser tão materialista. Queria não me importar, pensar que “poderia ter acontecido pior” como tanta gente me aconselhou, mas não. Eu realmente estava ali frustrada pela perda e depois frustrada por não conseguir levar essa situação de uma forma mais leve. Vivi “a culpa da culpa”. O que pode ser mais tóxico que isso?

Depois de passar por esse processo autodestrutivo, depreciativo e bastante obscuro do meu ser, passei dois dias desconectada do mundo virtual. Ao fim deles, sentei, peguei a caneta o papel e comecei a escrever.

Pensei: quero entender o aprendizado. Então, escrevi: o que eu ganhei com tudo isso? Alguns minutos de pavor, mas dois dias de amor. Nesses dois dias brinquei com meu irmão (pequeno jovem de 4 anos), conversei com meu pai, dei risada dos problemas, pensei, sentei, analisei, li quase um livro inteiro.

Talvez esses mil e tantos perdidos fossem mesmo pouco para pagar tanto prazer gratuito… O que avaliamos como muito pode ser tão pouco, o que avaliamos como pouco pode ser tão muito…

Qual o preço da calma? Do sorriso de uma criança? De uma conversa sincera? Do prazer de um bom livro?

Claro que vamos nos frustrar com as perdas, chorar, talvez desesperar… O que se compra é fruto de muito trabalho, horas de esforço. Está tudo bem se indignar, desde que a consciência do que é realmente valioso não se perca no meio dos boletos bancários, nas vontades de consumo, nas perdas e nos ganhos materiais.

Agora, depois de recuperar o celular – porque tá difícil de viver sem um – quero me conectar mais com os sorrisos reais e menos com os sorrisos do Instagram, fazer mais leituras cheirando as páginas dos livros, tendo boas conversas olho no olho, mais do que olho na tela. Conectar, mas de outro jeito, é uma boa forma de iniciar 2020.

Juliana W. Soeiro

CRP 07/ 26220

Contato 989.264.043

Comments


bottom of page