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Faz sentido mesmo “fazer uma rotina”

Parei um pouco de escrever nos últimos tempos. Dei espaço pra viver a quarentena aqui em mim sem ficar levantando hipóteses, apenas sentindo na pele. Sofri quando me deparei que era verdade o que eu tinha escrito no último texto. De fato, entendi aquelas linhas e entrei no processo de luto daquilo que era minha realidade e que agora não é mais.

Ainda estou um pouco sofrida e é bom admitir isso, assim posso me olhar com mais verdade. A quarentena pra quem ousa se enxergar tem colocado as coisas pra cima do tapete. Aquelas que a gente queria esconder estão ressurgindo. Todas as cobras, os lagartos, e aquelas sombras mais escuras.

Deixei elas virem me atingir, já não tenho mais tanto medo desse escuro do meu inconsciente, pois pouco a pouco vou colocando um pouco de luz. Percebo que os meus pacientes também estão vivenciando isso e é ótimo poder acompanhar eles nesse processo sabendo de igual pra igual estamos mais do que nunca no mesmo barco.

O fato de termos situações de sofrimento próximas, não tem atrapalhado o atendimento, pelo contrario, percebo que tem vinculado ainda mais. Aquela frase do Jung nunca fez tanto sentido “Ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. É simples, mas ser simples pode ser complicado num mundo de tantas teorizações e conceitos.

Além desse aprendizado de ser humana tanto quanto me for possível, também tenho relembrado mais do que nunca a importância de viver o momento presente, a estar aqui e agora junto de quem está comigo, ainda que por meio virtual. Nunca passei tantas horas do meu dia dentro de casa, com meus gatos, minhas plantas, meus pensamentos, com essa realidade que criei nos últimos anos pra mim.

Também resolvi analisar se faz sentido mesmo “fazer uma rotina” como todo mundo aconselha. Vi que sim, me faz bem ser um pouco mais ordenada nos meus dias, mas também posso dizer que já fiz almoço 18h da tarde, já tive insônia, já vi notícias demais, já vi noticias de menos, já me arrumei pra ficar em casa, já passei o dia de pijama… Enfim, quero dizer que nesse mundo de tantas cobranças que a gente vivia e chamava de normal, hoje a gente pode experimentar o nosso próprio normal e ver qual é o normal que cabe pra nós, sem tanto julgamento. Afinal de contas ninguém ta vendo. A quarentena tem até das suas liberdades…

Pra mim funciona majoritariamente manter a casa organizada, trabalhar no que eu posso nos dias de semana, falar com meus amigos, inventar algumas coisas aqui e ali. Acho que é isso, pra sobreviver à quarentena a gente tem que se conhecer mais, se inventar, se re-inventar, só não vale desistir.

Por Juliana Soeiro – psicóloga

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