top of page

Eu também!

Você já ouviu falar do tão necessário movimento #MeToo, que surgiu em forma de hashtag nas redes sociais, mas que ganhou notoriedade ao ser adotado por celebridades hollywoodianas, que utilizaram sua visibilidade para denunciar a cultura do assédio, travestido de “paquera” tão presente na indústria do entretenimento, mas também na vida cotidiana? 

Com uma mensagem relevante, atual e poderosa, a expressão ‘MeToo’ vem do movimento ‘The Silence Breakers’, algo como “Quebra do Silêncio”.

Apesar de ter tido notoriedade no ano de 2017, o movimento vem lá da década de 90, mais precisamente no ano de 1996, quando a expressão #MeToo foi pensada pela primeira vez pela ativista Tarana Burke, que foi vítima de abuso sexual e, diante de sua vivência, luta pelo empoderamento das jovens mulheres negras, que  fazem parte de um nicho da sociedade que ainda é silenciado e desvalorizado, logo, ainda  inviabilizado.

Nesse momento você deve estar se perguntando por qual motivo, quase 2 anos após a explosão do #MeToo, estou trazendo o assunto à tona?

Pois bem, porque assim como todas as mulheres do mundo, eu também sou assediada o tempo inteiro, 24 horas por dia, nos lugares mais inimagináveis. Estou/estamos fartas!

Assim como você, eu também tenho que pensar na roupa que vou usar, no batom, no salto, porque aparentemente, pasmem vocês, tudo isso é visto como um “convite” para o assédio livre, descarado e desmedido. Assédio sim,  não paquera, como alguns gostam de pontuar!

Assim como vocês, eu também sofro e me culpo quando estou, por exemplo, num ônibus e não somente sou assediada visualmente, como fisicamente, a partir do momento em que o sujeito acha que precisa me tocar para ir mais para o fundo do veículo.

Eu me sinto suja, invadida, desrespeitada.

Assim como vocês, eu também tenho medo de sair a noite sozinha, ou ir dar uma corrida nas primeiras horas da manhã, tendo em vista que vivemos num dos países que mais mata mulheres. É triste, mas ainda estamos encarceradas!

Assim como vocês, eu sempre penso que se um dia sentir que estou numa situação de um possível assalto ou até mesmo estupro, tenho que ser rápida, raciocinar logicamente, ser precisa, porque um celular eu consigo trabalhar e comprar de novo, mas e a minha vida, minha dignidade?

  Assim como vocês, eu também me limito e tenho que tolerar, por mais difícil que seja, que somente serei “respeitada” se estiver na presença de um homem. E só pra situar, estamos em 2019!

Assim como vocês, eu também já presenciei uma irmã que estava amamentando seu filho em público, ser erotizada e reduzida. Eu também questiono o que há de erótico no ritual de amamentação de uma mãe? Por que a sociedade nos sexualizou e erotizou tudo o que envolve o fato de ser mulher?

Assim como vocês, eu também sou assediada diariamente no ambiente de trabalho, quando escuto coisas como “me passa teu telefone, caso precise de ajuda” …. Costumo dizer que assim que saio do meu condomínio, tenho que vestir a armadura de gladiara, fechar a cara e agir como se fosse uma psicopata, para tentar coibir as investidas de quase todos os homens que passam por mim no trajeto de casa até a parada do ônibus. Do ônibus até a parada no trabalho. Do saguão do prédio em que trabalho até o elevador.

Assim como vocês, eu achei que dentro de alguns privilégios que eu conscientemente sei que tenho, estava segura de passar por situações mais agressivas. Eu estava errada mais uma vez!

 Como vocês, sofro desde que entrei na adolescência, isso lá pelos 12 anos, época que não tinha nada de sexual, mas que para essa sociedade doentia, já indicava a “liberação” para ser objetificada, afinal já era uma mocinha!

Eu (nós) era apenas uma criança e ainda hoje dói perceber que desde cedo nossos corpos são reduzidos a objetos!

Assim como vocês, eu também tive medo, mas muito medo, quando dentro de um ambiente que julguei seguro, fui ostensivamente assediada, desrespeitada e bem perto de ser tocada.

Assim como vocês, eu tive medo, me culpei, achei que estava com o vestido curto demais ou quem sabe com o batom vermelho demais… Assim como vocês, eu também tive medo do que poderia acontecer naquela fração de segundos, suei frio e pensei no pior.

 Mas assim como todas as mulheres que tiverem a coragem de gritar pro mundo “ Eu também”, eu não me calei, na baixei a guarda, não deixei que esse monstro, assim como aquele outro que dilacerou tantas outras mulheres, me intimidasse ou achasse normal tratar qualquer pessoa dessa forma.

E, infelizmente, assim como vocês, também tive minha narrativa condicionada, minimizada. Também ouvi que  devemos evitar situações de risco como esta. O que seria “tolerável”, se fosse o caso de estar numa rua escura a noite, pois sabemos como é a segurança pública no nosso país s e o quanto é ainda mais difícil ser mulher nessas condições.

Mas num lugar corporativo? Será que a culpa foi minha de estar num elevador, 15h da tarde, sozinha, tão desprotegida?

É obvio que não!

Assim como vocês, que sofreram violências piores, mais efetivas e traumatizantes, eu não tolerarei que me diminuam a um simples pedaço de carne. Eu não vou me calar, tão pouco justificar comportamentos como este.

Mas dói… Dói muito se perceber tão vulnerável. E até quando?

Talvez não tenha ficado claro, mas esse tempo de medo, de silêncio, de justificativas e de minimizações acabou! Pra quem assedia e pra quem normaliza, importante frisar!

  Por esse motivo é que o movimento #MeToo é de extrema importância, porque ele nos dá voz, nos dá amparo e força para dizer “Eu também”.

 Ele nos dá força para dizer que nós não estamos sozinhas e  que não temos mais medo!

  Afinal, esse tempo acabou!

Por Amanda Alves Rodrigues

Comments


bottom of page