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Estamos preparados para dizer Adeus?

O que podemos classificar como nosso limite para a dor? Um sentimento, uma decepção, uma perda? Se pudéssemos classificar nossos sentimentos, sendo que a dor estaria numa escala de 1 a 10, qual seria o seu grau máximo? Será que estamos preparados para dizer adeus? Desde o mais simples, como um “até logo”, até chegar ao “Adeus” imutável e definitivo? Estamos prontos para esse tipo de despedida?

Desde de sempre ouvi que a vida, isto é, esta vida que vivemos é apenas uma passagem, que nessa atual passagem estaríamos resgatando pendências passadas ou que simplesmente havíamos ganhando uma segunda chance de ser melhor. Porém, sempre me questionei se estaríamos nós preparados para entender esse conceito rizomático de vida no sentido biológico e vida no sentido espiritual. Eu acreditava que sim, que era questão de lógica, não de emoção.

No entanto, graças a minha mãe, com o passar dos anos fui entendo que “há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”, conforme dito pelo grande William Shakespeare. Com ela aprendi a ver todas as formas de vida de um modo diferente, pude entender que devemos respeitar não somente a nossa vida, mas todas as outras vidas aqui presentes.

E, nesse sentido, passei a começar a entender que talvez o fim desse ciclo não seja o final de tudo, que talvez possa existir algo além, uma nova forma de vida, por assim dizer. Porém, existem momentos de colisão que colocam em xeque tudo aquilo que acreditamos ser definitivo e, por mais evoluído ou espiritualizado que você seja, a grande verdade é que não estamos prontos para dizer aquele adeus (o imutável e definitivo) a quem amamos. Nos preparamos para tudo o que possa acontecer na nossa vida, o que inclui carreira, estudo, filhos, etc… Porém, não somos capacitados para dizer adeus, o que hoje acredito ser algo além de nossas habilidades como seres humanos. Nós não sabemos lidar com nenhuma perda, não sabemos como viver qualquer tipo de luto.

Quando você se depara com a possibilidade da perda, algumas fragilidades vêm à tona, como, por exemplo, nosso despreparo para lidar com a morte. Confesso que por mais forte que julgava ser, por mais “preparada” que  julgasse estar, percebi naquele fragmento de segundo entre o diagnóstico tardio do câncer raro da minha mãe e a confirmação da sua perda, que não há “ escola” capaz de preparar qualquer ser humano para o exato momento em que nos vemos obrigados a dizer adeus!

Quando algo tão forte assim acontece, uma espécie de epifania incide sobre tudo aquilo que acreditamos ou consideramos perpétuos. Isto é, em que mundo seria lógico a pessoa mais forte de todas sucumbir a qualquer coisa? Quando seria possível que a mulher que eu julguei imortal por toda a minha vida, de uma hora pra outra, se tornaria a mais mortal de todas? Seria possível isso? Estaria eu preparada pra isso? E a minha resposta para todas essas questões é de que não, não estava preparada e talvez nunca esteja. Provavelmente ninguém estará.

Acredito genuinamente que esses momentos de colisão são determinantes e nos mostram que a grande verdade é que essa vida, a vida que agarramos com todas as nossas forças, está além dos nossos desejos, das nossas ambições ou vontades. Por mais conceitual que possa parecer a ideia do que é a vida, entendo que definitivamente não somos capazes de pôr a teoria em prática.

Por mais “treinada” que eu tenha sido, nunca pensei que associar a teoria que me foi ensinada à dura realidade que me vi seria algo tão difícil. Não há escola pra isso, não há intensivo, cursinho preparatório que possa nos certificar de que quando essa hora chegar estaremos aptos para enfrentar a perda.

Porém, naquele momento entre entender o que acabara de acontecer e entre decidir o que fazer, me chamou atenção o quão difícil devia ser para aqueles profissionais que diariamente precisam lidar com a partida, com o adeus, mesmo que não seja o adeus de um de seus familiares ou amigos. Naquela fração de segundos entra o diagnóstico, as internações, o desgaste e a notícia do fim, olhei no rosto de cada enfermeiro e da médica de plantão, e o que eu encontrei foram pessoas que por mais “ habituadas” que estivessem com a perda de vidas, não sabiam ou não podiam me olhar nos olhos, afim de enfrentar mais essa despedida, o que confirma minha teoria de que, definitivamente, não somos capazes de conceituar nenhum tipo de perda.

Por fim, por mais triste que toda essa jornada tenha sido, aprendi que existe mais amor nessa vida do que eu imaginei. Existem pessoas que lutam diariamente por suas vidas, independente do que acreditam. Existem médicos, como os que eu conheci, que por mais pragmáticos que devam ser, acreditam nas várias nuances da vida e as defendem diariamente, a fim de evitar que mais um filho(a), marido, esposa, mães ou pais, tenham que dizer Adeus.

No meio de todas as cores, todas as vidas, todas as vibrações, sempre existirá você, minha amada mãe, que sempre me ensinou a apreciar a fugacidade da vida, suas variações, suas lições. A sua “vida” aqui foi curta, mas seguirá naquele plano que você sempre acreditou e que tanto tentou me provar.

E quanto a nós, cabe-nos entender que nunca será fácil dizer adeus e que nossa vida é algo frágil e precioso, que demanda tempo, dedicação e amor.

Quanto ao adeus, esse sempre vai ser difícil, mas talvez com o passar do tempo aquela escala da dor que hoje é 10, passe a diminuir gradativamente, até que se torne 1 ou simplesmente saudade. 

Por Amanda Alves Dias Rodrigues

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