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Emogis e autoavaliação

Nem sempre contamos com recursos internos para lidar com as dificuldades da vida. A falta de tempo, o estresse do dia-a-dia, crises econômicas, conflitos, que nos tiram o foco dos relacionamentos e ocupam boa parte de nossa energia e de nosso pensamento. Pensar que o ser humano funciona de forma clara como os emogis da figura, é categorizar de forma muito simplista as diferenças entre nós. É certo que algumas pessoas tendem a reagir mais negativamente quando se deparam com algum problema. Outras, com insuportável positivismo diante das piores tragédias. O certo é que não precisamos nos colocar em uma ou outra ponta do espectro das emoções, nem que nos fixemos em uma única definição (quantas vezes nos vemos oscilando entre estados emocionais diversos, o que mostra que não somos uma caixinha de um único sabor).

Esperar que pudéssemos usar algum recurso que sinalizasse nosso estado de espírito, nos tornaria absurdamente previsíveis e um tanto automatizados. Assim, a melhor avaliação ainda é a auto-observação. Mas algumas pessoas, diante de um estresse não conseguem se auto-observar. Quantas vezes tive que perguntar, nos atendimentos, se já haviam tomado alguma atitude (como ter procurado ajuda quando pensaram em suicídio, por exemplo) e tive que sugerir isso. Quantas vezes as pessoas me agradeceram por isso, por ter dado uma direção no momento em que não conseguiam sequer pensar. Quantos me agradeceram exatamente pelo contrário, por não ter indicado nada, quando o que elas mais ouviam era que fossem se tratar. Quando estamos em situação de crise, tomamos atitudes comuns, mas não somos tão previsíveis quanto pensamos. Mesmo quando já temos uma longa jornada de autocuidado, podemos culpar os outros pelas decisões que são nossas.

Assim, convido os leitores a pensar nos cinco S: Sensibilidade, Sabedoria, Saúde emocional, Simplicidade e Serviço (sentir, pensar, conhecer, comunicar, agir): sensibilidade para com o ambiente a sua volta, sabedoria na avaliação dos problemas como são colocados, saúde emocional, para refletir nosso estado de espírito/ânimo para tomar uma decisão, simplicidade para comunicar com os outros e o ambiente, reconhecendo que não somos perfeitos, e serviço, para agir para si e para os outros. Esta é uma boa dica que pode ser usada em qualquer situação, mesmo de estresse. Reservar um tempo para avaliar como estão os cinco S talvez não nos leve a uma solução imediata, mas pode ajudar a encontrar uma luz no fim do túnel, que pode ser até lembrar de algum amigo, a quem dividir o problema. Não estamos sozinhos, temos outras pessoas que podem nos ajudar. Temos nossos próprios recursos internos que podem ser ativados, desde que consigamos parar e olhar para dentro.

Às vezes, conseguir um tempo para nos autoavaliarmos, ajuda a detectar aonde os problemas mais nos afetaram e a deslocar a percepção para os nossos sentimentos. Este deslocamento para as percepções sobre o que sentimos diante dos desafios, podem nos ajudar a tomar decisões mais acertadas, pois, nem sempre decidir quando os ânimos estão agitados é a melhor saída. Talvez adiar uma decisão, para não agir precipitadamente, seja o melhor. Quantas vezes nos deixamos levar por percepções equivocadas sobre os outros, quantas vezes projetamos neles nossas próprias frustrações? Os emogi que usamos para nos autoqualificar e qualificar os outros podem estar equivocados. Duvidar do próprio julgamento ajuda a construir relacionamentos mais autênticos com os outros. Talvez até nos leve a encontrar algo de surpreendente no outro, tirando essa visão automatizada da vida e ajudando a ter menos preconceito e estresse.

Por Ivete Vargas

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